Todos nós passaremos pela experiência da morte, do luto e da dor que este processo envolve, quer seja pela nossa própria finitude ou pelo óbito de outras pessoas.
Por que, às vezes, vivemos como se nunca fôssemos morrer ou ainda assim vivemos agoniados pela morte?
Como lidar com o óbito de pessoas íntimas, como, por exemplo, pai, mãe, marido, filhos, namorada, amigos?
Como lidar com o falecimento de pessoas mais distantes, personalidades públicas e tragédias?
Como superar o luto livrando-se da dor?
Não há resposta mágica ou padronizada.
O medo do óbito
O ser humano em toda a sua história se preocupou com a sua existência e, mais ainda, com a sua finitude.
A ideia do fim enche de horror a maioria das pessoas e, seja como for, aceitando ou não, a morte é um fato. Uma realidade implacável.
O medo da morte é um tabu social, tema difícil de abordar em muitos contextos. Há um aumento da tensão toda vez que se fala no assunto praticamente em qualquer ambiente.
Culturalmente não fomos incentivados à cultura de educação emocional que nos prepare para falar sobre ela e quem dirá, então, para se preparar para a chegada e os efeitos que ela causa quando acontece.
Vivenciar a morte em pensamento ou na implacável realidade é, sem dúvida, um momento que traz à tona nossas angústias, crenças, fantasias e medos.
A morte faz parte do ciclo natural da vida, assim como nascer e o crescer.
É preciso falar sobre ela por mais difícil que seja, pois é fundamental lidarmos com os efeitos que essa situação produz na vida dos que continuam vivos.
E isso, claro, se aplica a qualquer ambiente, seja no familiar ou profissional.
Quando a morte bate à nossa porta
É inquestionável que a morte de pessoas amadas nos abala. Dependendo das circunstâncias em que a morte aconteceu, a dor emocional pode ser arrebatadora.
As pessoas são impactadas e sensibilizadas pela comoção e pela dor coletiva e compartilhada, podendo inclusive, chegar até níveis elevados de dor por acionar conteúdos internos psicológicos.
O luto dói e não há como negar a dor.
O abalo emocional afeta profundamente o psiquismo.
A morte é muito mais do que um processo biológico. A finitude do corpo, é um processo psicossocial que depende das relações, da cultura, das crenças e da subjetividade. Ela escapa da mera observação e provoca intensas e diversas emoções.
O processo do luto
Com o luto vem a tristeza, a desesperança, a amargura, a perda de sentido e tantas outras sensações ligadas ao óbito vivido.
Segundo a categorização da psiquiatra suíça Elisabeth Kubler Ross existem cinco fases de luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação.
Não há um tempo específico ou determinado para cada uma dessas fases, tampouco uma ordem normativa definida no processo.
De acordo com ela, há cinco estados mentais que atuam nesse processo.
E conhecer cada etapa ajuda na compreensão de como acontece a evolução da pessoa enlutada: do momento em que ela recebe a notícia da morte até a aceitação dessa nova situação.
O que é, afinal, fundamental entender?
É fundamental permitir o espaço do luto na nossa sociedade, na nossa família.
A pessoa que tem o contato com esse óbito precisa vivenciar a sua dor, e é importante ficar mal para que depois fique bem. A crise é importante para resolver conflitos e questões; a dor precisa ser elaborada.
A dor sentida da morte
Também é importante saber que cada pessoa vivenciará o luto de uma forma singular e que cada nova situação também será um evento diferente.
A mesma pessoa talvez consiga atingir o estágio de aceitação rapidamente em determinado caso, contudo, em outro evento trágico, ela tenha extrema dificuldade para chegar nesta fase.
No processo de enlutamento, a dor sentida deve ser entendida e trabalhada, descobrindo quais são os efeitos provocados no indivíduo.
Qual a escala de dor dessa pessoa de acordo com o parâmetro individual de suportabilidade? Não há comparação com a dor dos outros.
A experiência da dor é subjetiva. Ela é variável e impossível de padronizar em uma escala universal que sirva para todos.
O nível de suportabilidade da dor só pode ser expressado pela própria pessoa, o termo de comparação deve ser feito com ela própria, não com o outro.
O processo de luto é solitário, embora não devemos deixar o indivíduo enlutado (e que está sofrendo) abandonado à própria sorte.
Esse isolamento pode acabar enveredando por caminhos obscuros do sofrimento, da depressão ou até da loucura.
Apoio profissional psicológico no óbito
Nos casos de intenso sofrimento, quando a pessoa não conseguiu lidar com as questões do enlutamento e estagnou em alguma fase, procurar o apoio psicológico é muito importante.
Necessário avaliar principalmente se há relações ligadas, por exemplo, um transtorno de estresse pós-traumático que, muitas vezes, acontece decorrente de mortes violentas e repentinas.
Fazer parte de grupos de enlutados pode ser um instrumento complementar muito bem-vindo, exceto quando o desgaste emocional está em um grau muito avançado e necessita de apoio profissional.
É imprescindível compreender o significado da morte para a cultura em que a pessoa está inserida.
Qual a representação que a morte assume na família e história de vida dessa pessoa.
Nem todas as culturas têm a mesma visão da morte.
Orientais e ocidentais costumam ter concepções opostas.
A morte para japoneses, chineses, tibetanos e indianos, influenciados pela cultura budista é razão de felicidade, porque acreditam que a morte é renascimento.
Em vez de preto, usa-se o branco para celebrar o luto.
Aceitação do óbito para conexão com a nova realidade
É fundamental respeitar o tempo individual no processo de luto. Contudo, fica o alerta, são vitais as demonstrações de solidariedade e de carinho ao longo do processo.
Fazer a conexão da pessoa enlutada com à realidade, lembrar as possibilidades de vida que ela tem ao seu dispor, com convites afetuosos para outras atividades, faz parte do processo.
A dor precisa ser redimensionada.
O processo de substituição vai transformando o vazio e a angústia em lembranças doces experimentadas em vida.
A saudade não passa, mas sua representação é transformada.
Educação emocional é muito importante para lidar com a morte e todo universo que ela abarca.
Saber lidar com a morte nos prepara melhor para lidar com a vida, pode até parecer um paradoxo, algo muito contraditório, mas não é.
Não viveremos para sempre, por isto, temos que aproveitar sempre os momentos vividos.
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