Filhos. É preciso muita coisa para criá-los?
Existem muitas ofertas, no mercado publicitário, sobre itens “indispensáveis” para a criação de filhos. Cursos e mais cursos de preparação para pais. Isso me preocupa muito.
Andei pensando e refletindo nesses dias sobre o que precisamos para criar nossos filhos… Livros? Rede de apoio? Virtual ou presencial? Profissionais? Teorias? Grupos de mães? Coaching?
O que eu mais vejo e ouço de muitas mães (no consultório e nas minhas relações de amizade e em grupos para mães, da internet), é a entrega da criação de seus filhos nas mãos de profissionais, teorias, teóricos, técnicas, métodos…
Enfim, há uma vasta gama de “soluções” e de dicas para mães.
Mesmo aquelas (e principalmente aquelas) que escolheram uma maternidade ativa, e que ficam e se dedicam a maior parte do seu tempo para criá-los, estão tão presas a teorias, ideias e conceitos que não olham verdadeiramente para os seus filhos. Estão constantemente buscando o aval dos grupos e teorias para criarem seus filhos, procurando fora o que está dentro.
A maternidade é solitária.
Você pode e deve se relacionar com outras mães, trocar experiências, contar com elas.
Participar de grupos, ler livros, buscar ajuda profissional, mas é no dia a dia, com os seus filhos e filhas, que você encontrará a grande maioria das respostas que você busca fora, senão todas.
É se libertando das regras e teorias (muito bem intencionadas, claro) que você vai verdadeiramente nascer como mãe e enxergar as necessidades dos seus filhos.
Noutro dia li um relato de um pai que estava aplicando uma determinada técnica com sua filha: uma técnica que na teoria é muito boa, que tem muito valor e tal, mas que, conforme fui lendo o relato dele, só via uma lição de casa e não um relacionamento entre pai e filha.
Ele se perdeu dela no momento em que pensava se estava fazendo corretamente o que sua mestre havia ensinado.
Ele não estava enxergando e muito menos atendendo as necessidades da filha. Achei tão triste. Senti aquela menina tão sozinha!
E ele, com as melhores das intenções, e com todo amor que ele sente pela filha, conseguiu finalizar o “exercício”, mas perdeu uma chance enorme de estar com a filha.
É disso que eu falo quando digo que devemos esquecer todas as teorias, conselhos e pensamentos de fora.
Sou uma grande devoradora de livros. Estudo muito, até pela minha profissão, livros sobre maternidade e desenvolvimento infantil. Mas meu filho não é um estudo de caso. Ele não é um desenho de um livro. Ele é único.
Só posso enxergá-lo se eu estiver verdadeiramente com ele.
Passei também por esses momentos de aplicar técnicas de livros, de buscar teorias. Principalmente em momentos de crise, minha ou dele, e percebi que quanto mais eu buscava fora, mais eu me perdia dele.
Todas as vezes que fiz isso, as crises demoraram mais a passar.
Não digo que seja fácil. Mas é de extrema importância e urgência que nos esforcemos todos os dias para sentirmos nossos filhos e filhas, e estarmos juntos deles.
Acho super válido que nos preparemos para sermos mães e que procuremos nosso autoconhecimento. Mas quando você fizer isso, faça por você. Vá buscar ajuda para você.
E quando estiver com seu filho, esteja com ele. Com seus medos e inseguranças. Com seus defeitos e qualidades. Com seus erros e seus muitos acertos. Mas esteja lá com ele. Olhe pra ele. Fique com ele. E quando precisar de ajuda, quando achar que não vai dar conta, procure ajuda, mas volte. Com sua sombra e sua luz.
Tem até uma frase que é atribuída ao Jung (não achei a fonte original) que também se encaixaria nesse caso, com uma leve troca: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao ser mãe, seja apenas uma mãe.
É preciso se desconectar para se conectar.