Esses dias estava pensando que os afetos são iguais a um parente que não gostamos e que vem nos visitar.
Às vezes estamos de boa, andando bem à vontade pela nossa casa e de repente aquela visita chega sem pedir licença. Então temos que ficar ali fazendo sala para a visita.
E mesmo sem estarmos a fim de escutá-la, ela está ali, infernizando a cabeça. Fala, fala, fala, fala e a gente ali ouvindo.
De vez em quando damos um jeito de ir ao banheiro, olhar o celular e pensar em outra coisa. Fazendo de tudo para evitar ouvir o que ela tem a nos dizer. Mas ela insiste e enquanto não disser tudo o que tem para dizer, não vai embora.
Visita dos afetos
Nós também somos assim. Às vezes, como se fosse do nada, surgem em nós sentimentos, emoções e sensações que até então não deveriam aparecer ou que eram para ficar escondidos e isso nos incomodam.
Apesar de senti-los como externos à nós, como visitas vindas de fora, os afetos são nossos e vivem dentro de nós o tempo todo, só procurando espaço para serem sentidos
Eles ficam ali conosco e enquanto não pararmos para escutar o que têm a nos dizer, esses afetos não vão embora.
Os sentimentos, emoções e sensações querem falar algo de nós, e precisamos ouvi-los. Caso contrário, tudo isso pode se converter em angústia ou depressão e o sofrimento ser maior ainda.
Assim como o celular, podemos estar recorrendo a outras formas de não dar atenção a essas visitas indesejadas; como medicamentos, isolamento, ou agressividade, a fim de evitar que todo o conteúdo venha à tona.
Mas eu digo: feliz é a pessoa que entra em contato com tudo isso, que visita esses afetos. Pois, por mais que às vezes seja doloroso ter contato com certas coisas que existem em nós, esse encontro nos fortalece e nos auxilia no autoconhecimento.
Fazendo com que os afetos deixem de ter o poder de controlar a nossas vidas e então conseguirmos ser responsáveis por aquilo que somos e fazemos.