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O tempo cura tudo ou o tempo não cura nada?

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“O tempo não cura nada”. É até chocante ler a frase assim, direta, sem entrelinhas. 

Eu, nas minhas sessões, costumo dizer isso por um único motivo: porque o tempo não tem essa propriedade e, ao atribuir a ele “a cura”, você delega a responsabilidade de uma coisa importante para algo que não tem essa responsabilidade ou como resolvê-la.

E isso gera um efeito colateral: esperamos o tempo e deixamos de adicionar movimento às mudanças, significados e ações arriscando uma piora de um contexto que por vezes é complicado, apenas por “esperar o tempo”. 

Daí entra a diferença entre pedir ajuda e socorro. ¯\_(ツ)_/¯ por exemplo.

Eu entendo, e penso que você também entenda, o provérbio comumente dito: “O tempo cura tudo” que é uma frase bem popular e que sugere que, com o passar do tempo, vai acontecer o alívio das dores, a resolução de problemas e isso ajudará a superar dificuldades emocionais ou físicas. 

Aqui mesmo tem um texto sobre isso. E talvez um dia, eu faça um texto com um olhar mais crítico à esperança e deixar as coisas ao encargo do tempo.

Contudo essa expressão é baseada no senso comum e na experiência coletiva. 

Vale a pena analisá-la criticamente sob diferentes perspectivas para entender que, por mais que ofereçamos ao tempo essa propriedade, não é assim que as coisas acontecem.

crop doctor with stethoscope in hospital tempo não cura
Photo by Karolina Grabowska on Pexels.com

O tempo não cura nada na psicologia

Por exemplo, do ponto de vista psicológico, o tempo pode ajudar em um processo de cura emocional, apenas se entendermos que exista algo para “ser curado”, o que, em muitos casos é um processo, mas não uma cura, que remete a doença ou adoecimento e a medicalização de processos da vida. O tempo não cura.

Ainda assim, especialmente quando se trata de luto, traumas e términos de relacionamentos, essa frase costuma ser dita: “o tempo cura”. Será que é o tempo?

Como se cura algo que não é para ser curado? 

O luto é algo permanente, onde aos poucos nos adaptamos, aprendemos maneiras de lidar com ele, inclusive vivendo o processo e entendendo a sua importância, suas lembranças, seu contato com nosso mais íntimo.

Os traumas, podem ser superados, mas curados? Podem ser trabalhados por você, pelo ambiente mas não pelo tempo… Ele só está ali, seguindo. Ainda assim é uma adaptação ao conceito médico, você traumatiza um osso, que terá seu processo de cura, mas quem o cura não é o tempo, são as células que, aí sim, levam um tempo para fazer o serviço e ainda assim precisam de ajuda: como você ficar imobilizado(a).

Com o passar do tempo, as pessoas tendem a se adaptar às mudanças e encontrar novas maneiras de lidar com as emoções e circunstâncias adversas.

No entanto, o tempo por si só nem sempre é suficiente para curar, e muitas vezes o suporte emocional, a terapia e esforços pessoais são necessários para alcançar a recuperação e a adaptação às mudanças.

Agora, se formos para um lado mais linguístico: A frase “o tempo cura tudo” ou o tempo não cura nada, se torna uma generalização e, uma metáfora que simplifica a complexidade da vida e das experiências humanas. 

Embora possa ser reconfortante e acolhedor, essa afirmação não deve ser interpretada literalmente, já que há situações em que o tempo não é capaz de curar por si só.

Do ponto de vista lógico, a afirmação de que “o tempo cura tudo” ou o “tempo não cura” é uma generalização excessiva. 

Nem todas as situações podem ser curadas com o tempo, como algumas doenças físicas que exigem tratamento médico ou problemas sociais que requerem ações concretas. 

Além disso, “tudo” e “nada” são termos amplos que podem ser aplicados a uma ampla gama de situações e, portanto, devem ser usados com cautela. O que é o tudo? O que é o nada que você está se referindo? Como curar algo que você não consegue dizer o que é?

E mesmo pela ciência e senso comum, a ciência nos ensina que existem muitos processos naturais de cura e adaptação que ocorrem com o (junto) ao tempo, como a cicatrização de feridas e a recuperação de doenças como falamos ali em cima. No entanto, o senso comum também nos lembra que nem todos os problemas e situações podem ser resolvidos apenas pelo tempo. Muitas vezes, a intervenção humana, a cooperação e os esforços direcionados são necessários para enfrentar desafios e superar adversidades.

O tempo cura

O tempo é um conceito abstrato que permite medir e ordenar eventos e mudanças que ocorrem no universo, como um todo. 

É uma das dimensões fundamentais da nossa percepção e entendimento da realidade. 

O tempo nos permite perceber a passagem de eventos, estabelecer uma sequência cronológica e compreender a duração e a frequência de fenômenos.

A natureza do tempo tem sido objeto de estudo e debate entre filósofos, físicos e cientistas ao longo da história. Na física clássica, o tempo é tratado como um parâmetro independente e absoluto, que flui de forma constante e independente do espaço. Já na teoria da relatividade de Albert Einstein, o tempo é integrado ao espaço, formando o conceito de espaço-tempo. Neste contexto, o tempo pode ser afetado pela gravidade e pela velocidade, levando a fenômenos como dilatação temporal e contração espacial.

Apesar de ser um conceito central em muitas áreas do conhecimento, o tempo ainda é um mistério em muitos aspectos, e seu estudo continua a desafiar e fascinar cientistas e filósofos.

E mesmo com tudo isso, o tempo não cura nada. Ele permite que contemos, que outras coisas aconteçam e que você faça algumas mudanças ou principie por mudanças necessárias, mas ele, em si, não cura.

Espero que compreenda que esse é um ponto chave para que você não terceirize ou sequestre responsabilidades: o que é seu, o que é do outro, o que é do ambiente, da sociedade e da cultura. 

Perceber o que, faz entender o como e seguir nas mudanças necessárias que o leva até onde você está agora.

Quer falar a respeito? Ficarei muito feliz em conversar com você sobre isso. É só marcar um horário, e tomar a primeira ação para mudar algo. 😉

Até a próxima.

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Almondes, K. M. de .. (2006). Tempo na psicologia: contribuição da visão cronobiológica à compreensão biopsicossocial da saúde. Psicologia: Ciência E Profissão, 26(Psicol. cienc. prof., 2006 26(3)), 353–359. https://doi.org/10.1590/S1414-98932006000300002

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