O medo de ser quem eu sou. Eu havia começado a pensar nesse texto há algumas semanas, mas algo me interrompeu e ele virou só um rascunho. Hoje eu abri o editor e precisava terminá-lo. Me coloquei a refletir sobre o que me fez querer escrevê-lo.
Eu tenho tanto medo de ser quem eu sou. Sou tão perigoso.
Clarice Lispector
Me deram um nome e me alienaram de mim.
Sim, as vezes tenho medo de mim, tenho medo de demonstrar minhas fragilidades, medo de agir com o coração, medo de falhar.
Mas quem não tem medo?
Tenho medo também de me expôr, de ser julgada, contrariada. Medo de dar errado na vida. Sim, tenho muitos medos. E eles são bem horríveis quando decidem se manifestar.
Mas tenho um medo que tem sido maior que todos: o de me perder de mim mesma, de não me reconhecer mais por me adequar ao que me pedem, o tempo todo. Medo de ser quem eu sou.
Foi assim que a ideia desse texto surgiu.
Alguns pacientes, praticamente na mesma semana, demonstrando suas insatisfações e tristezas por precisarem ser quem não são.
E quando eu os questionei sobre o porquê não faziam diferente, as respostas foram quase todas iguais e iam ao encontro desse medo de ser quem se é.
Por conta dele a gente acaba criando um desconforto ainda maior, tenta se adequar a qualquer custo e se machuca. Por conta dele, o medo de nos sustentarmos, abandonamos nossas melhores partes.
“Você precisa demonstrar firmeza no seu trabalho. Não pode falar com tanta docilidade, como sempre faz”. Será mesmo?
“Você não pode chorar na frente dos seus pacientes”. Quando a gente deve se questionar dessas normalizações?
“Você precisa ser mais direta”. Será que isso me fará bem?
Me diz se ao escutar essas frases você não ia tremer de medo. Eu ia.
Porém, aqui é que começa a mudança. Tremer de medo a gente treme, mas ele não pode nos afetar a ponto de nos causar ainda mais mal.
A gente precisa enfrentar esses medos. Pensar o que nos faz feliz. Quem queremos ser e como queremos que nos enxerguem.
Eu posso, sim, ser doce no trabalho. Isso não é sinal de fraqueza.
Posso, sim, chorar com meus pacientes. Isso demonstra empatia.
E posso, sim, ser mais detalhista. Posso falar com calma sobre cada ponto a ser esclarecido e posso sair com a sensação de que não deixei de falar nada que julgava importante.
No fim das contas, trata-se de encontrar a nossa melhor versão e protegê-la. Cuidá-la. Regá-la. Sustentá-la.
Tenha medo de não ser você, mas nunca, NUNCA, de mostrar a sua verdadeira cara. Sem máscaras, sem cortes, sem travas. O medo vai existir, mas com o tempo, ele deixa de ter incomodar e chega uma hora, que você gosta tanto de ser quem é, que nem lembra mais que ele, um dia, existiu.
Texto original: 25/04/2018 – Atualizado 07 de agosto de 2021.
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