A cor amarela da campanha de conscientização Setembro Amarelo, encabeçada desde 2014, pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM e organizada nacionalmente sob a marca registrada Setembro Amarelo, tem sua representação, na cor amarela, um sentido de alerta.
Alerta este à atenção para a prevenção do suicídio e uma oportunidade para se debater o tema em um período de tempo que todos estão direcionando a sua atenção para isso.
Serve, principalmente, como um alerta geral para dizer que é possível prevenir: percebendo a dor do outro, escutando, orientando, abrindo espaço para se falar sobre o suicídio e temas relacionados à prevenção, às consequências e da pósvenção – o que acontece depois, com os sobreviventes.
Serve também para a divulgação de canais de ajuda, como o CVV, como o Instituto Vita Alere e outros como a Associação Brasileira de Psiquiatria, além de oferecer oportunidades para milhares de profissionais se engajarem, se conscientizarem e também se atualizarem.
É um alerta, afinal, para consolidação de modelos que não servem mais e para um trabalho com uma causa em comum.
Afinal, o suicídio é multifatorial, ou seja, diversos fatores atuam nele o que faz necessário que diversas frentes atuem na sua prevenção, manejo e pósvenção.
Já tratamos do assunto Suicídio no Psico.Online algumas vezes, inclusive falando de Suicídio Infantil e na Adolescência e postando um documentário sobre o tabú que é falar de suicídio entre outros textos e materiais.
Há uma categoria de posts somente sobre a temática do Setembro Amarelo e este post, é revisado anualmente para promover a campanha e o debate do tema.
Sugerimos também que ouça este episódio do psico.online podcast e este que fala sobre campanhas. Mas sigamos no assunto de hoje.
Tratar do suicídio, na campanha Setembro Amarelo, e fora dela, é lutar pelo bem mais precioso que temos: a vida.
Por mais que em alguns momentos ela se torne bastante complicada (a vida) ela é a única parte da nossa existência que temos certeza absoluta que faremos parte; que seremos e para isso, devemos nos integrar, nos entregar (?), vivê-la com seus conflitos e suas restrições nessa pluralidade que a torna tão única.
Falar pode não ser só a melhor solução, nem a única, mas nós psicólogos e psicólogas, estudantes de psicologia, profissionais da saúde teríamos a obrigação de escutar com atenção e proporcionar um campo fértil para o desenvolvimento e a re significação do tema ou quem sabe, do próprio suicídio.
É a hora de ficarmos atentos para perceber, receber de braços abertos e acolher seres humanos, indivíduos únicos, que pensam em dar cabo a sua própria existência pelos mais diversos motivos.
Tratar do suicídio, na e fora da campanha setembro amarelo, é uma ação constante e que salva vidas.
Falamos bastante sobre isso nos dois episódios do Psico.Online Podcast sobre Suicídio.
O suicídio
Comportamento suicida ao longo da vida
São registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 01 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. [1]
No Brasil, de acordo com estimativas oficiais do DATASUS, foram contabilizadas 195.979 mortes autoprovocadas entre 1996 e 2017, aos se considerar a distribuição por sexo, do total de mortes, 79,02% foram de homens, isso significa que para cada mulher que se mata, há, em média, quatro indivíduos do sexo oposto que cometem suicídio.[2]
Já segundo o Mapa da Violência, do IPEA, entre as mortes por suicídio, o Estado de SP é o que mais se destaca, mas o volume apenas aumenta de proporção, expondo uma crise que necessita de atenção multifatorial.
É uma informação alarmante e que, para pessoas que não têm contato diário com o tema, se faz necessária a informação e ao mesmo tempo brutal.
Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres.
Para efeito comparativo: na Síria, mas mesma época, morreram 191 mil pessoas desde o início da guerra, em 2011, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em uma conta rápida são 6 anos de guerra, ou seja 365 dias vezes 6 que é igual a 2190 dias de guerra ou 87 mortes por dia, aqui, no Brasil, ao seu lado.
Em 2011 se suicidaram 30 pessoas por dia, cerca de 34% de mortes em uma guerra. É muito! Nos dois lugares se trata de muitas vidas, muitas famílias e muita dor.
E ainda há um porém, entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, sendo observado um aumento de mais de 30% em jovens.
Além disso, os números brasileiros devem, entretanto, ser analisados com cautela.
Em primeiro lugar porque há uma subnotificação do número de suicídios e o processo de classificação de mortes vem sendo revisado dia após dia. E, em segundo lugar, porque há uma grande variabilidade regional nas taxas.
Consegue imaginar? Como é necessário mostrar que é possível sim ter uma vida nas suas mãos sem que ao menos você tenha percebido e podido fazer algo por ela?
De maneira alguma queremos nos tornar especialistas para discutir o tema. Você pode encontrar esses dados em diversos canais, como as referências abaixo e os textos Suicídio no Brasil na Wikipedia e mesmo sobre a Campanha Setembro Amarelo.
Mesmo nos links do Instituto Vita Alere e da SaferNet você também obtém cartilhas, conteúdos e muita informação.
Mas o que podemos fazer?
Na campanha do Setembro Amarelo, muitas instituições dão palestras e trabalham o tema. Inscreva-se, participe, entenda e fique atento a sinais de pessoas próximas a você.
O que é esse ficar atento? Perceba movimentos nocivos que desequilibram os modelos que proporcionam qualidade de vida.
Perceba o outro ao seu lado e acolha quem precisa de ajuda sem um julgamento de dores. Falamos muito isso nos textos durante todo o ano aqui no site.
Oriente as pessoas a procurar ajuda em canais adequados, com profissionais equilibrados. Considere o modelo bio, psico, social e todo contexto temporal que estamos inseridos.
Perceba claramente que as coisas são interligadas (lembra do multifatorial?). Ações que muitas vezes parecem sem ligação, podem dizer muito sobre o contexto.
Informe-se
Não é à toa que existe a frase: conhecimento é poder – ter conhecimento de como agir, perceber verdades e mitos, divulgar e ensinar pessoas pode fazer a diferença na vida de alguém.
Utilize aquilo que você sabe para interpretar visões críticas, negacionistas, fascistas, egocentradas e com interesses duvidosos.
Muito mais que um laço
Os anos de 2020 e 2021 têm sido complexos para a saúde mental e emocional das pessoas no mundo todo.
Independentemente de classe social, idade, crença ou profissão todos estão passando ou travando alguma batalha ou ajustamento.
Com base nessa realidade, o IASP – Associação Internacional de Prevenção do Suicídio, sugeriu como tema para o 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, a frase “criando esperança por meio da ação” e o mote da campanha do setembro amarelo foi para o “Agir salva vidas!”.
A frase serviu de inspiração ao CVV, que ao longo dos próximos 30 dias que marcam o Setembro Amarelo, promoverá ações com esse conceito e a campanha Setembro Amarelo com a sua agenda política também.
Reparem que temos já três cenários desenhados para o mesmo tema: o cenário do CVV, o cenário da psiquiatria e movimento médico e o cenário da psicologia crítica.
Ainda assim, a ideia é inspirar a atitude, a esperança não passiva, uma esperança que provoca movimento e convida para a ação, seja coletiva ou individual.
Ter esperança, acreditando que é possível, é o primeiro passo, mas não basta por si só. Tanto por isso vê-se tanta revolta e a frase: Setembro Amarelo o ano inteiro!
Todos nós podemos fazer parte das mudanças que queremos ver na sociedade, numa grande corrente pela vida, com atitudes construtivas para enfrentarmos juntos nossos medos e desafios, sempre atentos e dispostos a ajudar quem está mais frágil.
Mas repare que “atitudes construtivas” é um termo bastante amplo, logo, a discussão volta e o debate do setembro amarelo ganha peso, apoio e oposição.
Quando foi criado, o Setembro Amarelo tinha por objetivo chamar a atenção para a prevenção do suicídio através da valorização da vida.
A ideia era iniciar um movimento junto à sociedade. Ano a ano, o assunto vem ganhando espaço e os tabus vêm sendo quebrados.
Mais ainda há muito para ser feito e para avançar.
Por isso focamos na necessidade de ação – de cada um de nós individualmente, que é o que está mais próximo – para fortalecer na sociedade a esperança de que podemos ser mais inclusivos e menos individualistas, dando a nossa contribuição para a redução no número de suicídios.
Mitos sobre o suicídio
Mito
Quando uma pessoa pensa em se suicidar terá risco de suicídio para o resto da vida.
Explicação
FALSO. Os suicidas estão passando quase invariavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade e interfere em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o pilar maiFALSO. O risco de suicídio pode ser eficazmente tratado e, após isso, a pessoa não estará mais em risco.
Mito
As pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção.
Explicação
FALSO. A maioria dos suicidas fala ou dá sinais sobre suas ideias de morte. Boa parte dos suicidas expressou, em dias ou semanas anteriores, frequentemente aos profissionais de saúde, seu desejo de se matar.
Mito
Se uma pessoa que se sentia deprimida e pensava em suicidar-se, em um momento seguinte passa a se sentir melhor, normalmente significa que o problema já passou.
Explicação
FALSO. Se alguém que pensava em suicidar-se e, de repente, parece tranquilo, aliviado, não significa que o problema já passou. Uma pessoa que decidiu suicidar-se pode sentir-se “melhor” ou sentir-se aliviado simplesmente por ter tomado a decisão de se matar.
Mito
Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
Explicação
FALSO. Um dos períodos mais perigosos é quando se está melhorando da crise que motivou a tentativa, ou quando a pessoa ainda está no hospital, na sequência de uma tentativa. A semana que se segue à alta do hospital é um período durante o qual a pessoa está particularmente fragilizada. Como um preditor do comportamento futuro é o comportamento passado, a pessoa suicida muitas vezes continua em alto risco.
Mito
Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco.
Explicação
FALSO. Falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário, falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
Mito
É proibido que a mídia aborde o tema suicídio.
Explicação
FALSO. A mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de saúde pública e abordar esse tema de forma adequada. Isto não aumenta o risco de uma pessoa se matar; ao contrário, é fundamental dar informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda etc.
Principais fatores de risco associados ao comportamento suicida
Segundo a associação brasileira de psiquiatria (e aqui uma parte da psicologia critica a agenda diagnóstica) os seguintes fatores são relacionados:
- Depressão;
- Transtorno bipolar;
- Transtornos mentais relacionados ao uso de álcool e outras substâncias;
- Transtornos de personalidade;
- Esquizofrenia;
- Aumento do risco com associação de doenças mentais: paciente bipolar que também seja dependente de álcool terá risco maior do que se ele não tiver essa dependência.
Aspectos Sociais
- Gênero masculino;
- Idade entre 15 e 30 anos e acima de 65 anos;
- Sem filhos;
- Moradores de áreas urbanas;
- Desempregados ou aposentados;
- Isolamento social;
- Solteiros, separados ou viúvos;
- Populações especiais: indígenas, adolescentes e moradores de rua.
Aspectos psicológicos
- Perdas recentes;
- Pouca resiliência;
- Personalidade impulsiva, agressiva ou de humor instável;
- Ter sofrido abuso físico ou sexual na infância;
- Desesperança, desespero e desamparo.
- Suicidabilidade: Ter tentado suicídio, ter familiares que tentaram ou se suicidaram, ter ideias e/ou planos de suicídio.
Condições de Saúde Limitantes
- Doenças orgânicas incapacitantes;
- Dor crônica;
- Doenças neurológicas (epilepsia, Parkinson, Hungtinton);
- Trauma medular;
- Tumores malignos;
- AIDS
- Fatores relacionados a COVID-19.
Fatores protetores
Os fatores protetores são menos estudados e geralmente são dados não muito consistentes, incluindo: autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver; ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental. Durante uma avaliação do risco de suicídio em um indivíduo, os fatores de proteção não devem ser usados para obscurecer aqueles fatores que identificam o risco de suicídio. [3]
Busque ajuda para suicídio se suspeitar de alguma coisa:
Por telefone: 188 (as ligações são gratuitas, inclusive por celular)
Por chat ou chamada de voz online: acesse cvv.org.br
Saiba Mais sobre o Setembro Amarelo
Quer saber mais? Confira a página da campanha
Confira o que a mídia tem falado da campanha:
- Ministério da Saúde: Prevenção do suicídio ganha destaque durante o mês
- Youtube: canal da campanha – Assista
- Cartilha: Suicídio – informando para previnir do Conselho Federal de Medicina
Bibliografia e Referências usadas no texto Setembro Amarelo
[1] https://www.setembroamarelo.com/ acesso em 02/03/2021
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Suic%C3%ADdio_no_Brasil
[3] Suicídio: informando para prevenir*. Associação Brasileira de Psiquiatria, Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. Brasília: CFM/ABP, 2014.
Estamos organizando a casa, mas estes posts podem complementar sua leitura.
Post Originalmente escrito em 03/09/2016 – Atualizado 03/09/2021
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