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Psicossomática: O corpo não fala, manda sinais.

Psicosomática e bio psico social

Psicossomática é quando os elementos envolvidos na nossa vida se somam e afetam nossa cabeça… essa foi a explicação mais leve que encontrei para não ser muito teórico. Para aqueles que gostam da teoria, psicossomática pode ser definida como:

Definição técnica da Psicossomática

“transtorno psicossomático é uma condição na qual os sintomas de doença física (somática) são agravados pelo sofrimento mental. No transtorno psicossomático, os sintomas físicos geralmente acompanham um estado emocional ou psicológico, devido ao grau em que as emoções e outros fatores psicológicos ativam o sistema nervoso involuntário e as glândulas de secreção interna. Em um estado de raiva, por exemplo, a pressão arterial da pessoa com raiva provavelmente estará elevada, causando um aumento no pulso e na frequência respiratória. Quando a raiva passa, os processos fisiológicos intensificados geralmente diminuem. No entanto, se a pessoa for incapaz de expressar abertamente uma agressão inibida persistente (raiva crônica), o estado emocional permanece inalterado; embora a raiva não seja expressa em comportamento aberto, os sintomas fisiológicos associados ao estado de raiva persistem. Com o tempo, essa pessoa se torna ciente da disfunção fisiológica. Muitas vezes, a pessoa desenvolve preocupação com os sinais e sintomas físicos resultantes, mas nega ou não tem consciência das emoções que evocam os sintomas…

Encyclopædia Britannica – Psychosomatic disorder: https://www.britannica.com/science/psychosomatic-disorder

Ainda assim, não quero falar só da psicossomática, quero falar que o corpo não fala, mas manda muitos sinais de que algo não vai bem ou que as coisas podem ficar complicadas em breve.

No burnout, o incêndio não acontece sem os sinais iniciais. A depressão, a ansiedade e tantos outros conceitos psicológicos não surgem sem antes mandar uns alertas para que o dono da cabeça e do corpo perceba que algo não vai bem.

A treta acadêmica

Aliás, esse é uma parte do problema da treta acadêmica entre a ciência médica e a psicológica. Lá no século XIX, já havia pessoas tentando propor que o modelo médico não era o melhor jeito de resolver essas coisas. Estou falando de George L. Engel, psiquiatra que propôs o modelo bio-psico-social, que sugere que nossa saúde é moldada pela interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Esse modelo desafia a visão reducionista do corpo como uma máquina isolada da mente e do ambiente. Ele reconhece que nossa saúde é fruto de uma complexa rede de interações, onde o corpo, a mente e o ambiente se influenciam mutuamente formando um grande contexto a ser explorado para ser “tratado”. Diferentes visões surgiram a partir disso: a visão monista, que vê corpo e mente como uma unidade inseparável, e a visão dualista, que separa o físico do psicológico. A treta é grande, mas o fato é que tudo está interligado.

Entender essa dinâmica é crucial para evitar diagnósticos errados e tratamentos inadequados.

Por exemplo, problemas na tireoide podem manifestar sintomas de depressão ou ansiedade, e deficiências de vitaminas podem ser confundidas com transtornos mentais.

A falta de uma visão holística pode agravar o sofrimento, tratando o psicológico sem considerar os fatores biológicos que podem estar na raiz do problema.

Quando falamos de doenças de causa psicológica, estamos lidando com questões onde a mente desempenha um papel central, mas não podemos esquecer que o corpo também envia sinais claros de que algo não vai bem.

É o caso das alergias e de outras condições físicas que podem influenciar o estado mental e emocional, e que, muitas vezes, são tratadas de forma inadequada por falta de um diagnóstico mais abrangente.

Este texto pretende abordar a complexidade dessas interações, criticando a tendência de atribuir problemas de saúde exclusivamente à mente, e destacando a importância de considerar os fatores físicos e ambientais na busca por uma saúde integral.

Um caso que aconteceu na clínica

Certa vez, um paciente chegou ao consultório acreditando que seu problema nas vias aéreas tinha origem psicológica. Ele havia sido atendido em um pronto-socorro, e o médico de plantão sugeriu que seus sintomas poderiam estar ligados a questões emocionais. Afinal, quem nunca ouviu que o “emocional” pode mexer com a saúde? Mas como bom psicólogo, eu sabia que era preciso ir além dessa ideia simplista.

Durante a sessão, nos aprofundamos nas últimas semanas de sua vida. Perguntei sobre suas atividades recentes, os locais que frequentou, e como se sentiu durante esse período. Foi então que ele começou a descrever uma série de eventos que poderiam ter influenciado sua saúde. Nos últimos dias, havia participado de um velório, um ambiente fechado, repleto de flores e com muita gente abraçando, chorando, e… espirrando. Não parou por aí. Poucos dias depois, foi a uma festa em uma casa noturna, cheia de gente, música alta, e ventilação escassa.

A sequência de ambientes propícios a uma infecção viral começou a desenhar um quadro claro: o problema nas vias aéreas provavelmente tinha uma origem física, e não psicológica. Com base no curso natural de uma gripe viral, que costuma durar cerca de 7 a 10 dias, recomendei que ele se mantivesse hidratado, descansasse e observasse os sintomas. E, como esperado, após cerca de uma semana, ele estava completamente recuperado.

Essa história ilustra como é fácil confundir sintomas físicos com problemas psicológicos, especialmente quando nos falta uma visão holística da saúde. No caso desse paciente, o que parecia ser um problema “da cabeça” era, na verdade, um reflexo de eventos muito mais simples e comuns, como a exposição a vírus em locais fechados e frios.

O outro lado da moeda: O risco de minimizar sintomas físicos

Por outro lado, a situação oposta também é alarmante e pode ter consequências trágicas. Um caso recente em Brasília [2] destacou esse perigo. Uma mulher foi diagnosticada com crise de ansiedade em um hospital público e, após receber alta, acabou falecendo. O que inicialmente foi tratado como uma questão psicológica, infelizmente, encobriu um problema físico mais grave. Essa triste história sublinha o risco de negligenciar uma avaliação médica abrangente, que leve em conta tanto os aspectos físicos quanto psicológicos.

Quando não levamos em consideração todas as dimensões da saúde, corremos o risco de subestimar condições que podem ser fatais. O corpo manda sinais, e eles devem ser interpretados com cuidado, sempre considerando que a mente e o corpo estão profundamente interligados, mas nem sempre são a causa principal um do outro.

Doenças de Causa Psicológica (psicossomática): O Que Realmente Significa?

Quando falamos em doenças de causa psicológica, muitas vezes imaginamos condições que surgem puramente da mente, ignorando o corpo. Mas a realidade é muito mais complexa.

As doenças de causa psicológica são aquelas em que fatores emocionais ou comportamentais desempenham um papel central no desenvolvimento ou na manutenção dos sintomas físicos.

Isso não significa que os sintomas sejam “inventados” ou “imaginários”; eles são reais e podem causar tanto sofrimento quanto qualquer outra doença, demos vários exemplos até aqui…

Contudo vamos a outro exemplo, a ansiedade pode desencadear uma série de sintomas físicos, como palpitações, falta de ar e dores no peito. Esses sintomas são resultado de uma resposta biológica a um estado emocional de medo, mas sua origem está na mente.

No entanto, diferenciar entre uma doença de causa psicológica e uma de causa biológica não é simples. Isso requer uma avaliação cuidadosa e uma compreensão profunda de como corpo e mente interagem.

A questão é que nem sempre o que parece psicológico realmente é, e o que parece físico pode ter raízes emocionais.

Tomemos o exemplo de doenças autoimunes, onde o corpo ataca a si mesmo. Algumas dessas condições têm fortes componentes emocionais e psicológicos, e o manejo do estresse pode ser uma parte crucial do tratamento. No entanto, não podemos negligenciar os fatores biológicos, como o funcionamento do sistema imunológico.

No caso de Brasília por exemplo, a conduta ideal era fazer um ecocardiograma, avaliar o físico e depois partir para a avaliação psiquiátrica e psicológica.

Integrando Corpo, Mente e Ambiente: Uma Perspectiva Holística

Ao olhar para o quadro completo, tanto no caso do paciente que acreditava que seu problema respiratório era psicológico, quanto no caso da mulher que faleceu após ser diagnosticada com crise de ansiedade, vemos que é essencial não cair na armadilha de simplificar demais a causa dos sintomas.

O modelo bio-psico-social, proposto por George L. Engel, oferece uma maneira mais completa de entender a saúde. Ele nos lembra que é necessário considerar os aspectos biológicos, psicológicos e sociais de forma integrada.

Na psicossomática, essa integração é ainda mais crucial. O corpo não fala, mas manda sinais; é nosso dever como profissionais da saúde ouvir esses sinais com atenção, reconhecendo que o que parece ser “apenas psicológico” pode ter uma raiz física e vice-versa.

Quando tratamos as doenças de causa psicológica, precisamos estar atentos a toda a ecologia sistêmica do corpo. Uma dor no peito pode ser ansiedade, mas também pode ser um problema cardíaco. Um cansaço extremo pode ser depressão, mas também pode ser um problema na tireoide ou deficiência de vitaminas.

Portanto, ao final, é o equilíbrio entre as diferentes dimensões que vai garantir uma saúde plena. Ignorar qualquer uma delas é correr o risco de um diagnóstico impreciso e um tratamento inadequado. A chave está em entender que saúde não é apenas ausência de doença, mas sim o resultado de uma interação complexa e contínua entre o corpo, a mente e o ambiente.

Tem dúvidas? Marca uma sessão conosco.

Referências deste texto sobre psicossomática

[1] https://www.britannica.com/science/psychosomatic-disorder

[2] https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2024/07/12/mulher-morre-apos-ser-diagnosticada-com-crise-de-ansiedade-e-receber-alta-em-hospital-publico.ghtml

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