Como escolher um psicólogo? Essa foi a pergunta que um amigo, dia desses, me fez.
Percebi que não tinha nada aqui no blog respondendo àquelas perguntas e com autorização dele, resolvi transcrevê-as por aqui. Portanto, tire um tempinho por que a gente gosta de falar. 😉
A nossa conversa, levou alguns dias, com intervalos e, para facilitar a leitura, vou postá-la com alguns ajustes mas integralmente.
É importante contextualizar que nossa relação sempre foi de discussões teóricas – algumas bem filosóficas – e que é uma relação de anos, antes mesmo de eu ter me tornado psicólogo, e claro, pelas minhas contas – sem entregar muito a idade – tem mais de 20 anos com certeza.
Então, há muito conteúdo nessa postagem que relaciona outras conversas do passado.
Espero que gostem e deixem seus comentários, dúvidas ou perguntas caso elas apareçam.
Podemos responder por aqui, pelo podcast, pelo Instagram, Facebook ou em uma consulta, portanto, acompanhe a gente nas redes sociais ou marque uma sessão, ok? Vamos lá.
Perguntinha… como escolher um psicólogo? O que eu devo buscar em um?
Eu:
Sabe por que nós somos amigos? Porque fazemos perguntas complicadas kkkkkk e, a resposta para essa pergunta é: depende do que você busca.
Acredito eu, que o mais importante, seja um psicólogo que você desenvolva o vínculo na primeira sessão, ou pelo menos, nas primeiras sessões e que você consiga confiar, muito brevemente.
Até porque, antes de tudo, na terapia – deveria existir uma troca em confiança.
Contudo… voltamos ao ponto inicial: depende do que você busca.
Uma coisa que depende muito ao estilo de atendimento do profissional, é a linha teórica do psicólogo. Mas isso não deveria ser um critério de escolha do paciente/cliente.
Essas linhas, são as técnicas que o profissional usa para chegar ao objetivo que você busca (ou que acha que busca – até porque o psicólogo vai investigar a sua queixa e o que está relacionada com ela).
Aí voltamos para uma primeira parte da conversa: o que você busca?
Sobre a confiança na terapia
Ele:
Então, sobre o lance da confiança… Não já está implícito? O que eu falo já não é sigiloso por lei? Eu não posso chegar logo na primeira sessão e sair abrindo o verbo?
Imagina que um estranho chega pra você e pede conselho de que computador comprar. Você não sabe o que ele quer fazer, então você dá parâmetros tipo “se você vai jogar, tem que ter placa de vídeo X, se você vai levar em viagem é melhor laptop”.
Vocês não têm tipos diferentes linhas, etc? Ou ênfase em coisas diferentes?
Como escolher?
Eu:
Sim, o lance da confiança é implícito, mas tem todo tipo de psicólogo, como tem todo tipo de técnico de informática.
Têm até “psicólogo de jesus” que parece que não leu nada na faculdade de psicologia.
Contextualização: o psicólogo pode acreditar no que quiser, mas ele é um profissional da ciência e que deveria se identificar apenas como psicólogo, já pensou a bagunça que seria ter um psicólogo de jesus, do capeta, de Bhagavad-Gita ou do que quer que fosse?
Os contextos pessoais na escolha do psicólogo
Eu:
E você só consegue perceber as diferenças no decorrer da primeira sessão.
Antes de achar minha última psicóloga eu devo ter passado por umas seis.
Cada uma delas falou alguma coisa na primeira conversa que não deu liga.
Na literatura (e profissão), todos os psicólogos são aptos porque se formaram e estudaram em uma grade curricular básica para atender você, mas na realidade, tem uns que dão até medo. O que acontece em todas as profissões.
O sigilo está no código de ética e o psicólogo pode ser cassado, mas vai ter um processo administrativo, o conselho vai entrar em ação e o problema com a confiabilidade vai longe se a gente for colocar nos termos da lei.
Nesse caso, até as vezes, o profissional não faz por mal alguma coisa, mas na vontade de socorrer ou atender aquele que precisa, ao invés de encaminhar para outro profissional, acaba assumindo um risco.
Por exemplo, o profissional atende alguém por um valor abaixo do mercado naquele momento pois a pessoa não pode pagar a consulta, para encaminhar, o profissional especialista cobra 4x mais o valor daquela sessão. O que o profissional faz? Não ajuda, se pode, ao menos acolher?
A dica foi no sentido de que você e o psicólogo devem conseguir construir um vínculo bom, de confiança para alcançar resultados.
Você deve abrir o verbo para o psicólogo e ouvir também…
O que quero dizer é da capacidade dele de entender aquilo que você está falando.
Por exemplo: você pega um psicólogo que não consegue (pela estrutura cultural da dele) chegar a uma abstração sobre a neutralidade do bem e do mal e focar na energia existente que pode ser utilizada para o bem ou para o mal. Separando: energia do uso dela.
Na cabeça do psi ele está processando o seu conteúdo e te vê como alguém “que não aceita a realidade” pois aquele profissional não compreendeu o que você quis dizer ou simplesmente ignora uma pista que faz todo sentido na sua construção como pessoa.
São coisas diferentes. E isso você só percebe nas primeiras sessões.
E o mesmo vale para psicólogos que cuidam de minorias, que cuidam de nichos de religião.
Vamos pegar o psicólogo de jesus de novo. Você crê em outra coisa e cai com esse profissional, você acredita que ele poderá auxiliar ou que será mais um debate?
Se ele for um profissional bom (ao meu entender), você nem saberá que ele é de jesus e a sessão correrá tranquilamente pois o foco ali está em você e o psicólogo não interferirá com as crenças dele na sua.
O psicólogo precisa, pelo menos, demonstrar muito bem que te acompanhou e fazer as perguntas certas para que você tenha resultados necessários na terapia.
Para não interferir no seu caminho. Entende?
Somos treinados para isso, mas nem sempre é fácil atingir uma neutralidade terapêutica, pois antes de serem um psicólogo e um paciente no consultório ou no atendimento online, são duas pessoas criando uma relação de vínculo terapêutico.
Isso tudo para explicar a primeira parte.
Sobre as linhas da psicologia e o que elas influenciam na escolha do psicólogo
Agora a parte das linhas, até porque essa neutralidade é afetada por elas. Há algumas linhas, por exemplo, que o psicólogo entra mudo e sai calado.
Noutras você até faz teatro com objetivos claros da linha.
Existem algumas grandes linhas e infinitas variações delas.
Por isso perguntei o que te leva a buscar um psicólogo.
Por exemplo:
Um analista comportamental (e aqui não estou sendo detalhista no conceito, é uma explicação muito superficial, mas que ajuda no entendimento, já que você pode pesquisar depois o nome e as variações corretas) é o que chamamos de psicologia aplicada.
Ele trabalha comportamento: vai trabalhar com métodos científicos para resolver a demanda que você leva para a consulta.
A pesquisa da demanda será avaliada até chegar ao foco do problema e aí, trabalhar com funções. Ele é muito bom para fobias, problemas práticos que mudam o comportamento adaptativo. Por exemplo: fobias.
Um psicanalista ja vai avaliar seu passado para tentar chegar a um ponto com perguntas que, compreendendo as diferenças de uma linha entre consciente, inconsciente, mente, cérebro, ambientes e o seu passado chegarão a um determinado ponto.
A primeira, comportamental que falei, não vê esse bicho chamado de inconsciente.
Aí você tem a TCC que é a cognitiva comportamental. Têm as humanistas. As sociais. Os neuropsicólogos. As sublinhas: psicanalistas ortodoxos, freudianos, winnicottianos, lacanianos… isso sem contar os psicanalistas que não são psicólogos… por que tem a psicologia psicanalítica e a análise…
Todos são capazes de atender porque tem a mesma base inicial para o atendimento.
A investigação clínica.
Mas aí as coisas mudam de acordo com as técnicas utilizadas. Entendeu por que não queria entrar na linha? É uma coisa do profissional que não deveria interferir para aquele que está buscando o profissional.
Eu por exemplo, não tenho uma linha definida ainda, por exemplo, fiz cursos de psicanálise (porque era totalmente incomodado por ela e discordava de várias coisas, aí foquei em entende-las) e tem coisas muito legais, adoro análise comportamental, ela é ótima para trabalhar com interfaces humanas homem-máquina.
Tenho muita afinidade com os psicólogos da fenomenologia, da teoria cognitiva comportamental e com os psicólogos sócio históricos, então, é só love.
Dado ao meu passado técnico teórico, foi fácil de seguir por esse caminho mais científico.
Sou apaixonado – a que é só love, mas é difícil achar material – pela psicologia sócio-histórica que tinha como objetivo inicial juntar “todas as psicologias” e acrescenta o fator temporal e dialético no processo (superficialmente falando). Mas seu expoente era russo.
Estou fazendo um curso de psicologia analítica: Jung e vi que para sonhos e contextos mais ligados ao processo adaptativo, teste de personalidade ele é muito bom. Mas discordo de algumas coisas na teoria dele.
Então ir para essa parte de linha, vai mais prejudicar a sua escolha do que auxiliar nela, e isso porque nem entramos no mundo dos especialistas. Tem psicólogo especialista em tdah, autismo, crianças, idosos, casais, família, violência e etc.
Eticamente (se o psicólogo) percebe que não vai conseguir te auxiliar ele te encaminha para alguém da rede dele que é mais Especialista no assunto que te trouxe a terapia.
No Frigir dos ovos, todo psicólogo, começa com o trabalho de “clinica geral” para comparar a estrutura médica, o que até aí já é outro ponto de diferenças.
Por exemplo: não manjo muito pra trabalhar sexualidade… (outra teoria) mas na graduação queria fazer uma pos graduação em sexualidade, que no final não rolou e acabei migrando bastante para o contexto de psicologia e internet.
Não manjo muito de trabalhar racismo (há psicólogos especializados).
Não consigo trabalhar com a comunidade carcerária, pessoas com necessidades especiais, deficiência ou transtornos graves. Aprendi sobre tudo isso na graduação, mas seria imprudente da minha parte, como psicólogo tentar atender esse público se não tenho bagagem técnica teórica para tal.
Amo atender crianças, mas me relaciono melhor com a faixa etárias a partir de 8 anos pra cima. Menor que isso já é um desafio para mim. Relacionamentos ok. Profissão também. Adultos, idosos ok.
Ufa… sua vez… quer marcar uma hora para falar? Fica mais fácil de responder essas perguntas.
Mais sobre as linhas e relações terapeuticas
Ele:
Não, não me sentiria bem sendo atendido por alguém que tenho relação de amizade.
Eu: Entendi, mas não é atendimento é para falar tudo isso do que teclar.. *rs mas tudo bem… segue alguns posts do blog que podem continuar no assunto se tiver tempo e quiser ler: Como escolher a linha do psicólogo?, Psiquiatra ou Psicólogo? Quando procurar e qual a diferença?, Ah. Nem falei doa humanistas, dos psicólogos centrados nas pessoas. Tem este post também Psicologia: Dúvidas, Receios e Mitos, Sabe o que psicologia humanista gostaria que você soubesse?.
Eu acho que seguir nessa linha de decisão é besteira e adia a escolha.
É enfrentamento do problema. Quem tem que saber de tudo isso é o psi *rs *rs mas como curto escrever…
Que fique claro, nao que vc nao possa saber essas coisas. Mas o manejo clínico é nosso para entender, por exemplo, por que isso é tão importante na escolha de um psi para você. Controle? Cetiscismo? Medo? Por que o adiamento?
Hey, posso usar nossa conversa pra fazer um outro texto no blog?
Ele:
Claro que pode.
Obrigado.
Eu:
E vc, tem mais alguma pergunta? Quer marcar um horário? Eu realmente não posso atender vc como psicólogo, mas tem minha noiva e vários outros psis lá do psico.online pra indicar… se quiser falar o que te faz pensar em buscar um psi agora, posso tentar indicar alguém…
Ele:
Ainda tenho uma pergunta que talvez vc queira colocar no blog tb, junto. Só to tendo dificuldade de formular. Já te faço.
Ele:
Então: Analista comportamental, Psicanalista, e outras variantes, até psiquiatria. Eu não sei essas diferenças. E acho que devem ser relevantes para o que as pessoas estão buscando. Vc conseguiria fazer um resumo?
Um resumo não muito resumido das linhas e escolas da psicologia
Eu:
Jura que não quer marcar uma hora pra falarmos e tiro todas essas dúvidas e outras possíveis? Quem sabe você não fica mais à vontade? Mas vamos lá, bem resumo:
Analista do comportamento – não existe inconsciente, parte-se da teoria do estímulo resposta e variações a partir daí. Ela é monista: não há divisão do organismo em mente e corpo, que acarretaria a definição da Psicologia como a ciência da mente.
O organismo é considerado como um todo e a Psicologia se ocupa de sua interação com o ambiente, garantida pelo comportamento.
Tem suas variantes com a TCC – terapia cognitiva comportamental (essa não sei ainda explicar bem e em breve vamos ter um PodCast falando dela, mas envolve o processo cognitivo na teoria acima – embora mais complexa que isso) pois envolve a Cognição.
Psicanálise, tem origem em Freud e não chegam a um consenso se é dualista ou pluralista pois fala de (corpo, mente, consciente e inconsciente, id, ego, superego e aparelhos psíquicos, traumas, etc). Como falei lá em cima, tem suas sublinhas e escolas.
Tem muitas variantes que realmente não sei, por isso é complicado fazer um apanhado geral.
E realmente, para quem vai se tratar não faz muito sentido a não ser que depois de muito tempo, queira conhecer a linha ou suas variações.
Tem por exemplo a psicologia analítica, de Jung, que parte da de Freud (psicanálise) mas incluí a “alma” como força motriz e nesse caso a “alma” é a energia chamada psiquê, não a “alma” da religião, embora ele tenha analisado essa para criar a sua teoria.
A psicologia é um ramo que vem das humanas (filosofia, sociologia, antropologia e inclui ciências medicas: clínica, etc)… Mas não é medicina, pois ficamos no comportamento e no emocional.
A psiquiatria é uma linha médica e existe nisso algumas diferenças como hospitalização, a medicalização, movimento higienista e terminologias/tratamentos que discordamos muito. “Manicômio” por exemplo.
Porém há linhas mais próximas: psicologia hospitalar, neuropsicologia… etc. A diferença mais gritante é que a psiquiatria é ligada a uma especialização do médico e vai cuidar do seu órgão chamado cérebro e das suas variantes. Pode ser um psiquiatra terapeuta, até um psiquiatra psicanalista. Freud foi psiquiatra, Jung e vários outros. Os psiquiatras receitam remédios e os psicólogos não. O psicólogo cuida mais da parte emocional, cognição, sentimentos etc. Em muitos casos psicólogo e psiquiatra trabalham juntos. Um post que pode ajudar é o https://psiquiatriapaulista.com.br/psiquiatra-psicologo-diferenca/.
E de novo, por isso, a quem recebe o tratamento, inicialmente não faz diferença, pois um profissional bom vai analisar tudo e te encaminhar para uma linha ou outra se achar mais adequado.
Ele:
Entendi. Eu não gostaria de me tratar com alguém com quem tenho amizade pq eu vou confundir os limites.
Eu:
Rs… tranquilo… pode ser isso ou uma sessão conversa para tirar dúvida, não para tratar. Uma consulta mesmo. Pq acho q mesmo explicando e escrevendo tudo isso você ainda deve ter perguntas… e como disse, também posso indicar você para alguém. Lembra que é a função do psico.online conteúdo, consultas, ligar psicólogos a pacientes e vice versa.
Como profissional de psicologia e que é responsável por muitos conteúdos no blog, acho que faz parte do meu trabalho tentar elucidar muita coisa, mas é assunto para várias horas… vamos conversando.
ψ
A partir daí, então o assunto mudou e voltamos a falar de outras coisas.
Espero que esse bate papo com meu amigo Peter, ajude você também na escolha de um profissional que possa atender suas expectativas e resolver muita coisa que está ai dentro.
Aqui no Psico.Online temos profissionais para indicar que atendem diversos tipos de demandas. Profissionais mais contidos, profissionais mais introspectivos, profissionais especializados e de linhas diferentes que podem sim atender você.
Eu mesmo, sou só uma engrenagem entre tantos profissionais super competentes e qualificados que escrevem, participam da criação dos nossos conteúdos.
Sempre no final de cada post, tem um indicador de contato. Como são vários profissionais, caso algum não responda, envie uma mensagem para gente nas redes sociais pedindo para que enviemos o contato atualizado. Estamos aqui para que a psicologia seja uma parte da sua vida que ajude a torná-la mais simples.
Não esquece de compartilhar este post? Manda no grupo da família, navega no blog. São pelo menos 4 anos de conteúdo que com certeza foi criado para responder a dúvidas que você pode ter. Até logo.
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