Humanidade:
— “Vá para o diabo que te carregue com sua ignorância”!
— “Morra com seu orgulho”!
— “A vida da pessoa invejosa sempre anda para trás”!
Quantas vezes já praguejamos contra a ‘mesquinhez humana’ do outro? A ignorância, o orgulho, a inveja…
Eu disse “mesquinhez humana” e, quero alertar, neste momento, que essas duas palavras nunca deveriam ocupar a mesma frase, da maneira que o fiz propositalmente agora!
MESQUINHEZ é o nome que damos ao comportamento emitido pelo Outro, ao qual não somos suficientemente sensíveis, de maneira que nos colocamos incapazes de compreender as motivações mentais encoberta por ações que não correspondem aos nossos próprios valores; HUMANIDADE é o que somos, indivisivelmente, a qual é absolutamente desvinculada de qualquer juízo de valor!
O tratamento da subjetividade alheia na terapia…
Durante minha experiência como terapeuta estagiário em uma clínica-escola de Psicologia, me deparei com inúmeras queixas, oriundas de desajustes existenciais desencadeados em diversas instâncias da vida dos clientes.
Quando as pessoas me falavam como se comportavam diante das situações que lhes causavam sofrimento, eu as acolhia e ouvia com atenção clínica, respaldada por um arcabouço teórico que, posteriormente, seria supervisionado, corrigido e ajustado.
A escuta terapêutica ia se refinando e isenta de preconceitos e juízos de valores, propiciava aos meus clientes um ambiente favorável, em que eles eram considerados como os diretores das próprias histórias, respeitando seus tempos, suas fraquezas, entendimentos de si e do mundo, e sobretudo, considerando suas potencialidades, possibilitando que pudessem sair da posição de sofrimento e ampliarem a capacidade de compreenderem, de maneira mais clara, as experiências que a vida lhes trazia.
O breve relato da minha experiência como terapeuta demonstra que nestes momentos não há espaços para a consideração da ‘ignorância’, do ‘orgulho’ e da ‘inveja’ nas falas dos clientes.
Apenas desta maneira, foi possível propiciar momentos favoráveis para as pessoas expressarem seus sentimentos mais profundos e sentindo-se seguras, puderam reconsiderar a forma que vinham entendendo o mundo, e assim, ou mudaram suas atitudes, ou mudaram o seu entendimento diante das atitudes dos outros.
Quem tem propriedade para nomear os sentimentos do outro?
A mensagem que quero transmitir é que jamais devemos rotular o comportamento alheio como “ignorante”, “orgulhoso” ou “invejoso”, conforme a reprodução do diálogo apresentada no início deste ensaio.
Outros comportamentos que são popularmente reconhecidos como fraqueza, intolerância, hipocrisia, mentira, medo, covardia e tantos quantos as defesas humanas possibilitarem, também poderão ser contemplados por este pensamento.
Tendemos a olhar e interpretar o comportamento do outro pela nossa experiência de mundo, e tudo aquilo que não aceitamos, geralmente é fruto do que mais odiamos em nós mesmos, e nomeamos de acordo com a vivência pessoal, sem nos darmos conta que o Outro é um ser diferente, que emite comportamentos ditados por suas próprias crenças, medos, entendimento, cultura, e a necessidade de se sustentar existencialmente.
Se perceber único é lidar com as diferenças existenciais, e isso exige um esforço quase que sobre humano para se defender das ameaças físicas e emocionais que a vida impõe, e cada um usa os recursos que possui, de acordo com seu entendimento de mundo. Em outras palavras, “cada um luta com as armas que tem”.
A terapia é planejada por um profissional capacitado, contudo, a tentativa de compreender, se colocar na posição alheia, se esforçando para considerar e aceitar as demandas do Outro, deve ser um exercício contínuo de toda pessoa que se dispõe a ser Humana, capaz de compreender que sua experiência no mundo não é única e nem prevalente diante da coletividade.
Quer ampliar o próprio entendimento sobre si, sobre os outros e sobre as experiências?
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