Potência. A radiciação é uma operação matemática inversa à potenciação, assim como a divisão é o inverso da multiplicação.
Lancei mão da matemática e do trocadilho para iniciar este texto que é um desafio para nosso momento.
Que será, no final das contas, mais uma provocação para você que talvez queira, em potência, entender que a síntese é melhor que a tese e a antítese nos extremos. Está complicado não é? Calma, não desista, vou explicar.
Julgo, que este é um texto mais difícil do que a maioria que postamos mas sugiro que leia-o com calma e pense em cada uma dessas nossas curtas frases e no significado que você atribui a cada uma das terminologias utilizadas.
Alerta dado, para começar, na física, potência é força.
E força é o que dá movimento.
E movimento é o que faz a nossa vida.
E para nós, em movimento, o equilíbrio é essencial.
Pense nisso.
Em uma das teorias da psicologia, estudamos o movimento do movimento em movimento. Nos dias atuais, com as tecnologias de análise de dados, potencializamos essas informações para possíveis cenários de preditividade com base em dados que geram informação e, com o acumulo de informação, teremos a potências de ação.
Entre os radicais escolherei a potência.
Para Fernando Pessoa:
A potência é, de acordo com os fragmentos de “O Mundo como Potência e como Não-Ser”, a capacidade de algo se tornar em algo diferente ou possuir propriedades diversas daquelas que detém. O tornar-se diferente daquilo que se é constitui a atualização de uma determinada potência.
“O ato é a manifestação da potência” [“The act is the manifestation of the power”],29 lemos num fragmento relativo à ideia de Potência. Aquilo que se observa é que o que existe altera constantemente as suas propriedades.
O ser das coisas deve, por conseguinte, conter em si a possibilidade de se tornar diferente ou de possuir diferentes atributos. A essa possibilidade dá-se o nome de potência. Logo, o ser tem de ser potência, para que as coisas se possam transformar. [1]
Já para Nietzsche:
Este mundo é um monstro de força sem começo nem fim, uma quantidade de força brônzea que não se torna nem maior nem menor, que não se consome, mas só se transforma, imutável no seu conjunto […]
Força em toda parte, é jogo de forças e ondas de forças, uno e múltiplo simultaneamente acumulando-se aqui, enquanto se reduz ali, um mar de forças agitadas que provocam sua própria tempestade, transformando-se eternamente num eterno vaivém, com imensos anos de retorno […]…quereis um nome para esse universo, uma solução para todos os enigmas?
Uma luz até para vós, os mais ocultos, os mais fortes, os mais intrépidos de todos os espíritos, para vós homens da meia noite? Este mundo é o mundo da Vontade de Potência e nada mais! E vós também sois esta Vontade de Potência e nada mais… (NIETZSCHE, 1985, p. 290) [2]
Fomos longe demais né? Mas continuemos.
Linha de discurso filosófico da potência
Vamos ver um trecho de um blog [3] que traz algo sintético e de onde partiram todas essas potencialidades e ideias.
Para Parmênides, outro filósofo, o movimento era uma ilusão dos nossos sentidos, pois se houvesse as coisas deixariam de ser elas mesmas, e tudo era eterno.
Já para Heráclito, o cara do Rio (que o rio que passa não é o mesmo rio) tudo está em constante movimento, pois as coisas mudam e nada dura para sempre.
Platão tentou conciliar a teoria destes dois filósofos com a teoria do mundo dos sentidos e do mundo das ideias.
No mundo dos sentidos há constante mudança e não é esterno, este é o mundo que habitamos. Já no mundo das ideias nada muda e tudo que existe é eterno, são as ideias das coisas e por isso, o mundo dos sentidos é abstrato.
Aristóteles também retoma este problema, já que para ele o mundo das ideias de Platão é uma cópia daquilo que os nossos sentidos fornecem. Isto é, todo conceito, ou ideia que temos das coisas, primeiro passou pelos nossos sentidos.
Aristóteles tentou questionar a realidade em si, procurou analisar a realidade que não muda, entende que o movimento existe e que está dentro da própria coisa, mudando sua forma, mas não sua matéria.
Ato é potência
- O Ato – a manifestação atual do ser, aquilo que ele já é (por exemplo: a semente é, em ato, uma semente)
- A Potência – as possibilidades do ser (capacidade de ser), aquilo que ainda não é mas que pode vir a ser (por exemplo: a semente é, em potencia, a árvore).
Para Vigotsky, em sua teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal:
A distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial, caracteriza a Zona de Desenvolvimento Proximal: “A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário” (Vygotsky. 1984, p. 97). [4]
Entendi, mas e aí?
Hoje vivemos um momento que temos muitos extremos: conservadores e libertários. Direitistas e esquerdistas. Humanas e Exatas. Corinthians e Palmeiras. Fome e abundância. Pornográficos e Pudicos. In e Yang. Certo ou Errado. Todos eles extremados, potenciais no final da linha e no final da paixão.
Você se posiciona firmemente com uma opinião, argumenta, esbraveja e esperneia mas não ouve.
Você (nós) temos preferido os radicais às potências. As divisões as multiplicações. A ignorância ao conhecimento. A crença fiel e cega ao pensamento dialético que diz que um não existiria sem o outro.
Um homem não vive sem a mulher e a mulher não vive sem o homem. E não no sentido literal, mas abstrato. Pois sem mulheres os homens não nasceriam e sem homens, ninguém nasceria. É a síntese e a união entre os dois que fará surgir algo.
E extrapole. E a união entre os extremos que fará surgir algo, não a vitória de um e a derrota do outro.
Na sua próxima discussão, ouça e pondere. Adquira aquilo que é essencial do outro lado e agregue.
Essa é a provocação que temos neste texto de hoje.
Durma com essa! 😉
Referências:
[1] Ribeiro, Nuno. (2015). FERNANDO PESSOA E O PROBLEMA DA METAFÍSICA. Kriterion: Revista de Filosofia, 56(132), 433-450. https://dx.doi.org/10.1590/0100-512X2015n13207nr
[2] Ferreira Jr, Wanderley J.. (2013). Heidegger leitor de Nietzsche: a metafísica da vontade de potência como consumação da metafísica ocidental. Trans/Form/Ação, 36(1), 101-116. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-31732013000100007
[3] https://blogdoenem.com.br/aristoteles-ato-potencia-filosofia-enem/
[4] Zanella Andréa Vieira. Zona de desenvolvimento proximal: análise teórica de um conceito em algumas situações variadas. Temas psicol. [Internet]. 1994 Ago [citado 2019 Jan 05] ; 2( 2 ): 97-110. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1994000200011&lng=pt.
post original 14/01/2019 | Revisado 12/11/2021
Respostas de 6
Muito obrigado!
Excelente e urgente… potencializar mais que radicalizar…
Não consegui publicar o soneto que fiz sobre o ‘janeiro branco’ diretamente no site. Deixo-o aqui junto com o endereço do meu blog (Sabedoria do Amor) Suas publicações são pertinentes e urgentes. Parabéns à equipe.
EM NOME DA VIDA
(SONETO I- JANEIRO BRANCO)
De Minas mais um ‘trem’ está de partida:
Para o mundo, para o ano que começa…
Janeiro Branco: a ‘estação’ está aberta…
Ao ‘trem’ da saúde mental: ‘trem’ da vida!
É tempo de partida, bem como de parada:
A cada ‘estação’ uma pausa pra reflexão…
Quem cuida da mente a deixa preparada…
Pra alegria da vida e as dores do coração!
De Minas para o mundo desliza o ‘trem’…
A cada janeiro, ele ganha novos vagões;
Para a humanidade leva esta mensagem:
A vida é linda e bela, mas curta a viagem…
Ela é curta, mas oferece muitas estações,
Para curti-la temos o tempo de passagem…
ESTEVAMATIAZZI
estevamweb.worpress.com
Ótimo texto.
Excelente trabalho.
Parabéns.