Calar a boca. Particularmente sempre achei o termo “Calar a boca” forte demais.
Ele me lembra aquela criança na fase da aquisição da individualidade: “a bola é minha e se não quero mais brincar pego e vou embora”.
Vivemos um momento que o egoísmo foi tão incentivado e a concorrência foi tão elevada que o senso comunitário ficou relegado ao quase esquecimento.
Melhor calar a boca! Você não sabe o que fala, eu sei (a bola é minha).
Um exponenciador desse contexto é a fragilidade da conexão que se faz no on-line. Não concordo com você, não tenho que conviver com você, te bloqueio.
Meu anonimato ou meu distanciamento também permite que eu fale o que quiser, já que na sua frente não conseguiria ou pesaria os prós e contras (inclusive da agressão física).
Acaba-se por fugir da frustração e evita-se confrontações que o deixarão triste. É a facilidade de bloquear aqueles que não concordam conosco.
Ora, melhor calar a boca dele do que a minha, senão eu ficarei triste e assumirei que devo sair da minha zona de conforto.
Verdades costumam doer.
Projeções costumam estampar claramente o interior em uma figura focal.
Imagine então se todos calarem a boca de todos que divergem de você.
Começaria na escola: vou sair dela pois não sei onde vou usar isso.
Vamos calar a boca do professor.
Me isolar do modelo comunitário colocando-me num modelo de iguais: todos concordarão que não preciso disso.
Todos iguais, passam a se encontrar na caverna para calar a boca daquele que diz que as sombras são o mal – troque a analogia, mas pode ser se encontrar com iguais que dirão que aquilo não serve para nada (e nenhum frequenta a escola).
Ah! Aquele que frequentou há anos teima em dizer que é necessário. Ele, fora da caverna é que é o errado, certo? Errado.
Vamos calar a boca dele.
Não sei se ficou claro que esse isolamento, essa separação cria nichos “tribos”; “comunidades”; “sociedades minoritárias” que vão levantar-se contra o outro e iniciará uma fase de todos contra todos.
Cria-se o que chamamos de difusão, a sua voz de perde, você é minoria, num grupo minoritário, gritando ao lado de outro grupo minoritário com voz de ódio pois ninguém te escuta. Ninguém cria laços.
Só quero ser ouvido.
Afinal, calar a boca foi ideia de quem?
Será mesmo que calar a boca do outro é a melhor solução?
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