Celular e smartphone são palavras (e aparelhos) da “nossa geração”. Amigos ou inimigos do nosso dia a dia. Apetrecho indispensável, sonho de consumo, aparelho viciante e extensão do nosso corpo. Contudo, como lidamos com ele? Serão mesmo amigos ou nossos inimigos? E por isso, quis pontuar algumas perguntas que acredito sejam importantes para você pensar a sua relação com eles.
Vamos começar?
Para embasar que celular e smartphone são palavras da “nossa geração” busquei no Google Ngram [3], que é uma ferramenta cujo objetivo é visualizar a história, ascensão, desenvolvimento e desuso de termos, palavras, ideias ou expressões ao longo do tempo.
Em linhas gerais, a ferramenta apresenta a evolução de um termo ao longo do tempo desde seu surgimento, perpassando os períodos em que mais aparece, até quando, possivelmente, deixa de ser utilizado.
E já cometo um engano que corrijo agora, essas palavras ultrapassam “a nossa geração”, considerando que a expectativa de vida do brasileiro está em 76,6 anos [5] e a indicação de seu surgimento está em 1910.
Ainda assim, o seu uso massivo está na faixa da “nossa geração”. Erro meu, mas, para efeitos gerais, acredito que não interfira nas perguntas: o seu celular e smartphone tem sido seu amigo ou inimigo? Você tem vivido em detrimento dele ou não? Uma vida, sem celular e smartphone, como é hoje, seria possível ou é utopia? Quais os benefícios e malefícios que eles causam na sua vida como indivíduo?
Mas já estou me adiantando, o resultado da busca, foi o seguinte:
Desse modo, falar de celular e smartphone hoje, a partir de um olhar exclusivo da psicologia, já seria um trabalho que demandaria mais que um post. Em um texto aberto, como este, meu objetivo se restringirá a fazer com que você considere a sua relação com ele, nada mais que isso.
Afinal, celular e smartphone, são partes de um contexto de mediação de tecnologias da informação e comunicação (TIC) e das teorias que possibilitam falar de sistemas, redes, teorias da inteligência e do conhecimento e claro, de saúde mental e qualidade de vida.
Vem comigo?
Dito isso, comecemos propriamente falar de celular e smartphone.
Profissionais de diversas áreas e linhas teóricas trabalham para melhorar o software (as aplicações e usos dele) e o hardware (mais rápidos, mais economicamente viável, mais tantas outras coisas) com diferentes objetivos e contextualizações.
Há diversos estudos focados no vício e uso do celular e smartphone.
Há outros tantos (estudos) que apontam para integração dele com nossa dinâmica social (sócio cultural globalizada), com as possibilidades e como ferramenta “ciborgue”, já que dificilmente, nos desgrudamos dele.
Podemos ir para a linha da saúde, para a linha da usabilidade, de sociologia e antropologia e claro da psicologia, pois como aparelho simbólico, o celular e smartphone, são apenas um ponto de partida.
Talvez a declaração do diretor do Centro de Saúde Mental Digital da Universidade de Oregon, Nicholas Allen, seja uma das mais acertadas: “Não temos evidências claras sobre como o uso dos smartphones afeta o desenvolvimento cerebral.” [2]
Já o professor de psicologia da Universidade de Temple, Laurence Steinberg, que estuda desenvolvimento de adolescentes, concorda e acrescenta: “E qualquer pessoa que diga o contrário estará apenas especulando.” [1]
Celular, smartphone (até que ponto ele é smart ou inteligente) são questões que rondam as rodas de conversa, os medos e as mudanças da nossa geração.
Como será, por exemplo, que viveríamos uma pandemia em que o celular ou smartphone não existisse, seria possível? Claro. Seria mais fácil ou mais difícil? Apenas especulações.
Eu, particularmente, não consigo imaginar um mundo conectado, móvel, tecnológico sem o uso desses minicomputadores.
Principalmente porque no final do dia, o celular é apenas o objeto central que representa dúvidas quanto ao uso da Internet e de suas novas (e não tão novas) tecnologias, medos e vícios multifatoriais – afinal falamos do excesso de uso das redes sociais ou da dinâmica da radiação eletromagnética que em uma direção quase simétrica, ou seja, quando o aparelho está a uns 25 centímetros da cabeça, absorve radiação quase que totalmente, sendo potencialmente nociva para o corpo humano e principalmente para o cérebro [4]?
O celular e smartphone elencam e desencadeiam questões sobre nossos problemas de “modernidade liquida” e busca por atenções. Representativo de uma dinâmica do nosso contexto temporal e social. Há alguns anos, este post seria sobre “televisão: amiga ou inimiga?”.
Celular e Smartphone, o vilão
Lá no passado já existiam os filósofos e estudiosos que eram anti-mecanicistas, que observavam as ferramentas com argumentos extremos e lógicos de alerta às novas tecnologias.
Antes mesmo de falarmos propriamente do celular ou smartphone essas pessoas já traziam visões que observavam novas tecnologias como problemáticas e claro, não deixa de ter sua verdade. Afinal, um tacape de madeira e osso cortante, embora facilite muito a caça, também pode ser utilizado para outros objetivos fim.
Mas se fecharmos mais o cerco para esses pequenos aparelhos, desde o seu rápido desenvolvimento e integração nas nossas vidas, em um olhar mais para o contexto canarinho (brasileiro) são 234 milhões de celulares inteligentes (smartphones) no Brasil e ao adicionar notebooks e tablets (tecnologias móveis) falamos de 342 milhões de dispositivos portáteis em junho 2020, ou seja, 1,6 dispositivo portátil por habitante.
Nesse ponto poderíamos falar por exemplo da nomofobia e nos perguntar se o virtual pode se tornar realidade? ou se já se tornou. Mas será que estamos falando do celular e smartphone como vilão ou sua vilania está em permitir “coisas” dentro de um contexto social?
Quais são os receios envolvidos a partir da adição de uma nova variável que foi introduzida na nossa dinâmica de vida?
São as novas doenças como a Síndrome do Pescoço de texto? [6]
São os malefícios? Vício, controle, poder, gasto? Novos modelos de convivência com a tecnologia? A educação dos nossos filhos que vão desde transtornos de deficit de atenção e hiperatividade, ou será que somos todos tão deslumbrados com esse tacape, que direcionamos nossa “raiva” para esse objeto, quando deveríamos observar nosso contexto como cuidadores e cuidados?
O vício de celular e smartphone normalmente é tratado com o uso do próprio aparelho. Será que isso afeta o seu percurso? A sua importância? Será que o vício é de celular e smartphone ou de fuga de uma realidade dolorosa demais que causa um sofrimento psiquico?
Quando colocamos o celular e smartphone no jogo, como vilões, não podemos deixar de considerar que eles são inanimados – embora controlados por empresas que mandam alertas o tempo todo para nos deixar desesperados – mas está nas nossas mãos o botão de liga e desliga.
O vilão será mesmo o aparelho?
Celular e Smartphone, o amigo
Em um contexto dinâmico de tempo e de contraditórios, temos que observar também os saltos permitidos pelo acréscimo desses aparelhinhos nas nossas vidas.
Segundo as estatísticas aqui do site, muito provavelmente você está lendo este texto de um deles e se não está, provavelmente tem algum perto de você.
Pense que há alguns anos, para ter acesso a psicólogos, você precisaria se deslocar, pedir indicações e ainda assim, se apenas quisesse ler algum material estaria restrito a livros físicos, que dependeriam de uma cadeia de suprimentos imensa para oferecer a informação a você.
Hoje, aqui, pelo celular você pode Agendar sua sessão de terapia online preenchendo um pequeno formulário que um psicólogo ou uma psicóloga entra em contato via um comunicador.
E ainda nesse sentido, para não ser tendencioso na psicologia, você tem acesso a telesaúde.
Este infográfico, ilustra 25 coisas que o celular já substituiu:
Finalizando os questionamentos
Essas perguntas possuem muitas respostas.
Abaixo está a lista de referências simples para montar essa pequena argumentação, mas há estudos aprofundados em tantas áreas que é impossível dizer se o celular é um vilão ou amigo.
Da mesma forma, poderíamos classificar por senso comum, uma pessoa como vilão ou amigo, ora, o que transforma essa pessoa no seu vilão ou no seu amigo?
Falamos de contextos sociais, falamos de escolhas, falamos de perdão, falamos de autoconhecimento e de um tempo e postura que não dá para excluir as facilidades que eles trazem, do mesmo jeito que não podemos fechar os olhos para seus malefícios.
Tantos e tantos sites vão buscar na sua necessidade um posicionamento para dizer: concordo com você e estamos no mesmo tipo, então o celular é ruim, pois é isso que você quer acreditar, e olha, ele faz isso e aquilo.
Mas se você parar um minuto, poderá imaginar também os benefícios. São maiores ou menores? Têm escala (se tem 5 malefícios e 1 benefício, ele é mal), não é tão simples, o benefício pode ser salvar a sua vida em uma emergência.
O problema de trabalhar com hipóteses contraponto realidade é esse, entramos em looping. Os “SE” vão aumentar as nossas ansiedades, nossos medos, nossas inseguranças, e os “SE NÃO”, vão contrapor e você vai travar.
Conclusão
A conclusão é que depende do quanto você está disposta ou disposto a lidar com os benefícios e malefícios do seu tempo. Do quanto de trabalho você quer ter. Do quanto você está consciente de que está sendo dirigido por propagandas e aceita trocar suas informações por descontos.
Você é uma cria da sua época, e a sua época tem celular e smartphone. Não utilizá-lo, vai te deixar, até que ponto, em um posição diferente que vai prejudicar você e aos seus? A sua decisão e escolha é social? É individual?
A conclusão é que para mim, que escrevo o texto hoje, o celular é um amigo, não um inimigo, mas não estamos falando de mim. E para você?
Espero que tenha gostado deste texto. Ele acabou sendo um pouco maior do que esperava. Deixa nos comentários a sua opinião, será um prazer ouví-la.
Está com dificuldades com o celular e smartphone e ele tem impactado sua vida de maneira negativa? Marca um horário comigo ou com um dos profissionais aqui do Psico.Online, será muito bom ajudar você com isso.
Se puder compartilhar o post para amigos, para conhecidos, a sua visita é muito importante. Acesse e conheça os outros textos também. Até a próxima.
Pós escrito (PS)
Que tal assistir esse video que problematiza ainda mais o uso do seu celular e smartphone?
Referências:
[1] Disponível em https://www.scientificamerican.com/article/are-smartphones-really-destroying-the-lives-of-teenagers/, acessado em 18/06/2021.
[2] Hermann, R. (2018). Celular, doce lar. Brasil: Sextante.
[3] Characterizing the Google Books Corpus: Strong Limits to Inferences of Socio-Cultural and Linguistic Evolution
Eitan Adam Pechenick, Christopher M. Danforth, Peter Sheridan Dodds acessado em 18/06/2021.
[6] Você já ouviu sobre a ‘Text neck syndrome’ ou a ‘Síndrome do pescoço de texto’?