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Uma história sobre o Cancêr

Algumas coisas que nunca me contaram sobre o câncer e outras que aprendi no pós-câncer de tireóide será o conteúdo deste texto.

Durante a infância, vi o câncer várias vezes: ele veio ao encontro do meu avô materno e de uma tia-avó. Eu me encontrei com ele, pessoalmente, aos 25 anos.  

Nessa idade você se sente pleno, faz planos, traça metas e sonha, mas o jeito com que eu encontrei o câncer foi péssimo (não que seja bom encontrar com ele alguma vez). 

Quando eu tinha 24 anos e comecei a perder peso, tive episódios de tristeza frequentes e sentia que minha garganta ficava quente. 

Com 25 percebi um crescimento do meu pescoço. 

E aí, foi eita atrás de eita. 

Qual a razão de eu atribuir diferença da minha experiência de câncer para as outras? 

Giusti et al. (2021), falam que pacientes com carcinoma tireoidiano sofrem mais com queixas relacionadas à fadiga quando comparados a pacientes com outros tipos de câncer. 

Posso compartilhar com vocês que em alguns momentos do dia, é como se minha bateria simplesmente acabasse ou se me propusesse a fazer alguma atividade que exigia mais esforço físico, a minha bateria ia embora muito mais rápido.

Para vocês terem uma ideia eu já passei vergonha num dos primeiros encontros com o futuro marido… ele tentou me mostrar uma cachoeira em Botucatu e, em minha defesa, eu estava descondicionada fisicamente, mas também há uma senhora ladeira naquele lugar. Socorro!  Foi taquicardia. 

Eu senti que meu coração acelerou num ritmo que eu desconhecia e precisei me sentar numa pedra para esperar a alma voltar para o corpo. 

Aqui, tive o primeiro vislumbre do que é um corpo disfuncional e que merece cuidados mas é um pouco doloroso reconhecer isso e ter de cuidar para não cair  naquela situação de novo. 

Conclusão dessa odisséia: não conheci a tal da cachoeira e hoje, eu e o futuro marido fazemos passeios em lugares planos apenas. Essas são estratégias de enfrentamento para que possamos nos adaptar diante de condições adversas.

Resolveria se eu fizesse exercício físico? Sim. 

Contudo, uma das consequências do câncer de tireoide, está na perda da tireoide na tireoidectomia total. Qual o tratamento? Reposição hormonal com a levotiroxina sódica.  

Ok? Não. 

Pensem comigo: o hormônio sintético vai ajudar. Mas nada como a fonte natural, né? 

A sensação da bateria acabar, acredito que esteja muito ligada a isso.  

Mas são cenas do próximo capítulo a ser construído depois de concluir a pesquisa do meu mestrado. 

Enfim, todas essas questões só reforçam a necessidade do acompanhamento multidisciplinar do paciente que está com o diagnóstico e convivendo com o câncer…de qualquer tipo. 

woman with pink headwrap using a laptop câncer
Photo by Thirdman on Pexels.com

O câncer, vem com uma imagem de fatalidade que nos empurra para um abismo. 

Há perdas de ordem social, psicológica e biológica. Experimentamos um luto pelo corpo saudável e passamos a temer nosso próprio corpo.  

Assim como no luto por alguém que parte, experimentamos diante do câncer estágios semelhantes: 

A negação:  “não, não…tá errado esse exame!” 

A raiva: “Como assim eu tenho câncer? Nunca fumei, bebi e fiz extravagâncias” 

A barganha: “De hoje em diante não levarei mais desaforo para a casa” 

A culpa: “Meu Deus, como eu pude permitir isso comigo mesma?” 

A aceitação: “Ok, vamos lá. [Vou surtar a cada exame…mas, ok vamos lá]. 

Na literatura, há dados de como o estresse pode vir a ser um elemento de gatilho para o desenvolvimento do câncer (BÃRBUŞ et al.,2017) e que desenvolver estratégias de enfrentamento frente ao adoecimento é importante sim (SMITH et al. ,2018). 

O que o câncer de tireoide tem de diferente? 

De todos os passeios que já fiz nessa internet e nos grupos do Facebook, deu para perceber que na questão do estereótipo, comumente nosso tratamento não é tão debilitante fisicamente. E nem sempre as técnicas usadas, farão com que percamos as madeixas. Logo, nos distanciamos do estereótipo da pessoa com câncer.

Lembrando que estereótipos são lagos rasos e nem deveriam ser considerados, mas a realidade é que eles estão aí.

Enfim, temos uma cicatriz que precisará de muito cuidado: sem sol, cobertura e se o médico recomendar pomadas para ajudar na cicatrização…E é uma imagem que vemos todos os dias. Que remete sempre ao que ocorreu, não nos deixando esquecer desse “companheiro”.

Hoje eu estou em paz com a minha.

Temos queixas emocionais que mostram preocupações com o futuro: e se o câncer voltar? E se eu tiver câncer em outro lugar?

Esse e se… é o que mais assombra.  E se…

E esses exames de sangue desregulados? Socorro! 

Dá para pegar os números e jogar na loteria, né? (humor). 

Diante de tudo isso, o que eu aprendi e gostaria de compartilhar com vocês, meus queridos leitores? A valorizar meu autocuidado e a enxergar os limites e potencialidades que meu “novo” corpo me trouxe. 

Hoje entendo que o esforço físico é mais penoso, que a memória não é mais a mesma e que eu sentirei mais frio que o normal. Mas a lição mais importante, sem nenhuma dúvida, é a de poder dizer não sem culpa.  

Você aí que me lê, quantas vezes deixou de dizer um não hoje e está aí se perguntando o motivo de não ter dito não? 

Tudo o que foi descoberto, perdido e ganho nessa trajetória diante do câncer aconteceu na minha psicoterapia. 

A experiência de dor, sofrimento, incerteza e até mesmo todas as perguntas dentro de nós têm um espaço adequado dentro da psicoterapia.  

Por fim, a psicoterapia em si, pode vir a ser um espaço de reconstrução e de autoconhecimento para você. De abertura para entender mais, pesquisarmos juntos, conhecer mais dessa jornada.

Se quiser agendar a sua sessão, podemos falar sobre isso e sobre as suas experiências e vivências com o câncer, além daquele estereótipo que infelizmente existe, olha, eu estou à disposição e aqui, com e por você.

Espero que este texto ajude a perceber que ainda é possível prosseguir, pois mesmo com a luta enfrentada por ele, estou aqui, pronta para compartilhar e escutar, pronta para acompanhar e acolher você.

Tem dúvidas? Comente. Não desista e até o próximo texto.

Leia mais sobre Câncer em:

BÃRBUŞ, E., et al. Quality of life in thyroid cancer patients: a literature review. Clujul Medical. v.90, n.2, p. 147-153, 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28559697/. Acesso em 14 jul.2021. 

GIUSTI, M.; et al. . Evaluation of Quality of Life in Patients with Differentiated Thyroid Cancer by Means of the Thyroid-Specific Patient-Reported Outcome Questionnaire: A 5-Year Longitudinal Study. Eur Thyroid J, v.9,n.5,2020 . Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7548839/. Acesso em 07 Set.2022. 

SMITH, S., et al. I know I’m not invincible’: An interpretative phenomenological analysis of thyroid cancer in young people. British journal of health psychology. v.23, n.2, p.352–370, Mai, 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29356226/. Acesso em 20 Jul.2020.

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Psicóloga em Psico.Online

Psicóloga Daiane Baldo Apolinário CRP 06/134495 especialista em humanidades e Humanização no campo da saúde e mestranda no programa de Pós-graduação em Gerontologia. Tenho experiência com os temas: doenças crônicas, câncer, ansiedade, depressão e violência doméstica. Com a Psicologia clínica, tenho como objetivo ofertar um espaço de acolhimento para adolescentes, jovens, adultos e idosos com vistas a propiciar um espaço de escuta e elaboração de questionamentos ou angústias que nos afligem nesses tempos modernos.
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