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Sociedade e Vítimas do próprio veneno, lei do retorno e romantização

Sociedade, vítimas do próprio veneno e lei do retorno

Na nossa sociedade, às vítimas do próprio veneno seriam aquelas pessoas que colhem o que plantam? Existiria mesmo uma lei do retorno ou essa seria uma visão romantizada de uma relação determinística que não existe? [3]

A definição de determinismo está lá no final do texto. 😉

E esse post não te dará a resposta, mas uma percepção sobre atos e desejos e como, muitas vezes, deixamos a mercê do universo ações que deveriam partir de nós como indivíduos e sociedade.

Um dia desses eu lia sobre a morte de um tipo de abelha operária.

Quando essa abelha ferroava, também abandonava o seu ferrão.

Esse ferrão possui pequenas farpas que prendem e ficam encravadas, o que, após o ato mata a abelha lentamente.

Isso acontece pois o inseto tenta escapar voando, mas acaba arrancando também todo o posterior de seu abdômen (junto com nervos, parte do tubo digestivo e a bolsa de veneno) [1]. 

Eu sinto muito pelo inseto. 

Somos mais que uma sociedade em uma colmeia

A abelha age por instinto e morre lentamente protegendo a si ou a sua colmeia, abandonando sua bolsa de veneno pulsando. Ela não pensa sobre isso.

Hoje, pouco antes de decidir escrever este post, me deparei com uma outra postagem que fazia a seguinte analogia

“abelhas morrem heroicamente mas são vítimas do seu próprio veneno como pessoas que vivem atacando outras por meio de fofocas, intrigas, destilando ódio, vomitando rancor e mágoa… que podem até incomodar momentaneamente a sua ‘vitima’, mas acabam recebendo de volta a sua própria maldade”… e finalizava com um “observe se há felicidade em quem vive assim”…  

Resolvi obedecer o post e fiquei pensando, repassando as possibilidades, se haveria felicidade em quem vive assim, como seria a vida das abelhas.

A maldade ou a bondade da ferroada e as nossas e o quanto nos pautamos em vinganças, violência e analogias erradas para expressar esses sentimentos.

Primeiro, respondendo ao final do questionamento do post se haveria felicidade em quem vive assim.

Haveria. Não existe nenhuma determinação causal (de causa e efeito) de que fazer algo desse tipo resultará, com certeza, em um retorno do universo por mais que se torça para que isso aconteça. Caso contrário não existiria injustiça, não seria necessário leis e tudo seria auto regulado.

Segundo, atribuímos nossos desejos em relações sem que elas, necessariamente sejam verdadeiras.

“Como uma operária” deveria fazer. Deveria? Vou pular esta parte da discussão comparável sobre posições sociais e seus resultados, mas fica o ferrão pulsando para você pensar. Principalmente porque não somos abelhas e a nossa sociedade é estruturada de um jeito diferente do delas.

Somos mais que uma sociedade de abelhas

Mas isso é, afinal um ato heroico. Morrer para proteger a si e a sua colmeia. Será mesmo que é um ato heroico?

Para abelha, instintivamente só existe a tentativa de sobrevivência e a de proteção da colmeia.

Nós que ao olharmos de fora, questionamos e atribuímos significados pautados naquilo que conhecemos, relacionando nossos desejos, conhecimentos e reconhecimento pelo “nosso trabalho”, “pelo nosso heroísmo”, pela “justiça divina” … mas será que é assim?

Perceba que não é o “universo” que conspirará para fazer algo, mas uma relação entre pessoas e resultados das nossas ações. E o acúmulo dos resultados de todas essas ações.

A ferroada da abelha não é em si um ato bom ou ruim, é um ato de sobrevivência e proteção instintiva. E, nós, afinal não somos abelhas.

Falei inclusive no post anterior, sobre as nossas sintonias emocionais, onde você tem um papel importante sobre sintonias ruins, neutras ou boas.

Ora, se você trata alguém bem, tem grandes chances (grandes chances) de aumentar a probabilidade de ser tratado da mesma maneira, mas não quer dizer que sempre será tratado assim pois você se relaciona e também depende da sintonia, atos e desejos do outro e da sociedade que está inserido.

A romantização da lei do retorno

Então fui pesquisar um pouco, e assumo que bem superficialmente, sobre a tão conhecida lei do retorno e percebi que muito do que é trazido ali, vem com uma mensagem de esperança, de karma, de uma postura de aceitação.

Há de se ter esperança, mas também necessitamos agir e não delegar nossa frustração para que outro resolva nosso problema, como nossos pais ou cuidadores faziam (ou deveriam fazer) até determinado momento da nossa vida.

Quando lemos a postagem nas linhas do tempo das redes sociais, tendemos a concordar com a analogia.

Ora “aqui se faz e aqui se paga”. Queremos que pessoas más recebam de volta sua maldade e que a longo prazo, também sofram a dor que estamos sofrendo. Elas não poderiam ter felicidade… ou, para ser menos violento que existisse justiça ou uma empatia forçada.

Pensamos em justiça social quando nos falta ferramentas para agir, mas será que falta?

Desejamos o equilíbrio, mas delegamos ao outro ou para a sociedade, pois evitamos muitas vezes a dor do conflito, do movimento e das escolhas.

Queremos que o outro seja respeitoso, mas respeitamos?

Desejamos que o outro seja bondoso e justo, mas nós somos?

Pedimos para mudar algo, mas damos o primeiro passo em direção a isso?

Tentamos que o outro saiba ou perceba algo que estamos pensando, mas nos expressamos e comunicamos isso?

Sabemos mesmo o que queremos?

Queremos que a sociedade tenha papeis definidos, queremos nos comparar as abelhas, mas conseguimos ou podemos ser como elas?

Não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade que sobrevive a partir da violência e que é diferente da dinâmica de uma colmeia.

Sinto muito em pensar que isso é um engano romântico.

Depende de nós

Que não há nada que prove que isso realmente aconteceria, até porque é muito genérico e abrangente.

Somos no máximo responsáveis pelas nossas ações em relação aquilo que buscamos. Romantizamos verdades que nos caem bem, pois alivia a nossa dor mental, nossos defeitos, nossa preguiça, nossa falta de virtudes.

Buscamos em modelos respostas que são abstratas e que ignoram que frustração, dor, lidar com pensamentos diferentes são parte do dia a dia de um grupo muito diferente ao de uma sociedade como a das abelhas.

Afinal, nós somos seres humanos complexos que precisam aprender com seus erros, precisam aceitar acasos e indeterminações e aprender a lidar com seus desejos mais ocultos e maus.

Meu desejo, é que a lei do retorno exista, porém enquanto ela não é cientificamente determinada para poder ser replicada, prefiro acreditar que cabe a cada um de nós ter uma consciência tranquila, seja lá o que isso queira dizer.

A ideia original dessa postagem era ser motivador, espero que ao oferecer a oportunidade para que você e eu, tenhamos ao nosso alcance o conhecimento necessário para compreender que serão nossas ações que mudarão o mundo, e não a ação dos outros, isso motive você a dar o primeiro passo para algo melhor.

Referências

[1] https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-abelha-morre-ao-picar-uma-pessoa/

[2] https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?a-lei-do-retorno&codigo=AOP0409

[3] Determinismo: princípio segundo o qual todos os fenômenos da natureza estão ligados entre si por rígidas relações de causalidade (causa e efeito) e leis universais que excluem o acaso e a indeterminação, de tal forma que uma inteligência capaz de conhecer o estado presente do universo necessariamente estaria apta também a prever o futuro e reconstituir o passado.

  • princípio segundo o qual tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva.
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Psicólogo CRP 06/154.661 - Formado Psicologia e em Administração com ênfase em Marketing, geek que respira tecnologia, pesquisador e mestrando em tecnologias da inteligência e design digital. É um dos fundadores do Psico.Online e do MeuPsicoOnline.com.br. Com diversos artigos e livros publicados tem sua atuação focal em jovens, adultos e idosos. Agende comigo

1 comentário em “Sociedade, vítimas do próprio veneno e lei do retorno”

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