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Quando o corpo fala

Esse é um texto que fala sobre a importância de nos ouvirmos, de ouvirmos nosso corpo, respeitá-lo e deixar que nos guie.

“Quantas vezes falou comigo e eu não escutei. Desviei os olhos, fechei os ouvidos e os sentidos. Porque não me interessava. Porque me aborrecia. Porque me dizia verdades que eu não queria saber, que me incomodavam.

Me parecia mais fácil sustentar uma realidade, ainda que de papel, mas que estava controlada, pensada. E ele voltava, como um redemoinho e me dizia que talvez aquilo não era o que importava. De sentido, de vida, de destino.

Eu o afogava e afogava de novo. Lhe dizia para calar-se. Semanas, meses, anos. Ia me afastando dele, entrando numa realidade de fantasias, que me parecia muito original naquele momento.

Até que depois de muito, muito falar, se cansou. Nem o escutava nem o ouvia. E então se colocou a gritar. Forte, muito forte. Me assustei, claro. De repente, escutava uma voz que nem sequer reconhecia, ainda que nunca tivesse parado de falar comigo.

Mas aquela voz me ensurdecia… queria tapar os meus ouvidos, com ainda mais força. E então, gritava mais, e mais. Eu queria ganhar dele à todo o custo. Exigir que deixasse como estava tudo aquilo que estava agora mesmo, desmoronando.

Mas não. Se foi. Tudo. Toda. Eu. E então deixou de gritar, ele, o corpo. Agora me acariciava, com palavras, com suspiros, com sussurros. Me contava histórias e me enviava mensagens. Eu ali, rendida, extasiada, destroçada, desmontada. Só era capaz de olhá-lo, de rabo de olho e escutá-lo.

Pela primeira vez na vida estava me abrindo a tudo o que ele queria me dizer. Porque já não havia motivos para lutar. Não havia nada para proteger, nem justificar. Tudo havia passado. O telão do filme que eu sempre assistia havia se encerrado, agora tudo parecia estar numa cova interna. E ali não passava nada. Nem o tempo, nem o espaço.

Eu só era capaz de notar o quão moída eu estava, depois de tanto resistir e lutar. Eu havia dito basta, ou me haviam obrigado a dizê-lo.

Seja lá como for, eu agradecia. Já estava cansada, muito esgotada. Tinha vivido anos cega de mim mesma. De me sentir e respirar.

E então deixei que ele agisse. Que me dissesse o que fazer, que me guiasse. Que me aconselhasse quando sim e quando não. Quando alguma coisa era boa e quando algo não lhe era agradável.

Com pessoas, com situações, com músicas e com canções. Com alimentos e com esportes. Com bailes e sons. Lhe permiti falar. E nunca mais gritou. Não daquela maneira, desesperada.

Agora, as vezes, levanta a voz. Um pouco. Mas então lhe olho de canto e me sorri. Sabe e sei que não o deixarei em vão. Que lhe escutarei. Que tudo o que me diga será avaliado, como uma verdade a ser sentida.

Ele é meu guia, meu termômetro interno, minha bússola e meu máximo aliado.

Sei que quando estou em meu caminho, ele descansa tranquilo, fluindo e nadando a favor da correnteza da vida.”

Retirado de Psicocode.com (traduzido e adaptado)

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CRP 6/101759 - Graduada pela Universidade São Francisco, mestre em Ciências da Saúde pela Coordenadoria de Controle de Doenças do Estado de São Paulo. Psicóloga clínica desde 2010, busca constante aprimoramento na abordagem analítica. Estudou Cinesiologia no Instituto Sedes Sapientiae, frequentou grupos de estudo e supervisão teórica na Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica de São Paulo e ainda, integrou o grupo de Neurociências do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Atualmente é doutoranda em Psicologia Social, pela Universidad Complutense de Madrid.

Gostaríamos de escutar o que você tem a dizer.

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