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Beleza, gordofobia e autoestima. Um ou 2 pontos para pensar o corpo

Vamos falar sobre beleza e gordura? Essa semana buscamos filmes antigos para assistir e resolvemos rever, entre aqueles que escolhemos, o “O amor é cego” (Shallow Hal) de 2001 com o Jack Black e a Gwyneth Paltrow como protagonistas.

O contexto é que o filme é uma comédia romântica politicamente incorreta, gordofóbica, como vários estereótipos e caricaturas característicos dos filmes da época. 

Hoje, ele seria cancelado e criaria uma maré de indignação e críticas. E, se você pesquisar um pouco verá que naquela época também foi mas sem tanta repercussão.

Penso que com os conhecimentos de hoje, até o título tropicalizado – traduzido e adaptado para nosso país – me incomoda e com as mudanças sociais que estão em evidência, ele é um filme indigesto atualmente.

Mesmo assim há uma boa possibilidade para se considerar: a crítica sobre “a beleza interior” e o corpo, que dá para aproveitar num debate importante sobre as representações do corpo gordo, beleza, bullying, etc.

Voltando um pouco para o título, já o nome do filme, traduzido ao pé da letra seria “Hal superficial” (Hal é o nome do personagem), mas os filmes são intitulados de modo a chamarem a atenção do espectador e nesse caso, as produtoras levam muito em consideração os aspectos comerciais do filme – outro tema que já abordamos neste post e neste post aqui sobre a tirania da beleza femina – e até mesmo alguns detalhes do roteiro para chamar mais atenção e vender, vender e vender.

Agora pense comigo: uma pessoa ignorante do processo ofensivo, preocupada apenas com as vendas, assistindo o trecho do filme em inglês para criar um título vendável e ainda “ser engraçada”, com o emprego dela em jogo.

Não dá para ser inocente e deixar de acreditar que essa pessoa tentará chamar a atenção.

Não acredito que ela criaria um título adequado, pois, assuntos sérios dificilmente “vendem”.

Aqui vale pontuar que polêmica vende, “dá ibope” e que o “cancelado” vai ter visibilidade também.

Aliás, é por isso que orientamos a não compartilhar posts “de gente sem noção”, violência, incoerentes, pois uma das facilidades da internet está em unir tudo, inclusive, aquilo que precisaria ser revisitado, transformado ou superado né?

Mas antes que eu me perca, quero propor uma pausa no texto para você pensar aí:

a beleza do plus size
Photo by Sofia Shultz on Pexels.com

O que é beleza?

Pensou?

Vamos para a parte do significado: “A beleza é comumente descrita como uma característica de objetos que torna esses (objetos) prazerosos de se perceber. Tais objetos incluem coisas inanimadas, paisagens, ações, seres humanos (como objeto de estudo) e obras de arte. A beleza, junto com a arte e o gosto, é o tema principal da estética, um dos ramos maiores da filosofia. Como valor estético positivo, ela é contrastada com a fealdade (o feio) como sua contraparte negativa. Junto com a verdade e o bem, é um dos transcendentais, que muitas vezes são considerados os três conceitos fundamentais da compreensão humana. [1]

Feio, bonito, verdade, mentira, bem ou mal… Mas não gostaria de seguir por esse caminho filosófico.

Então, o que é a beleza para você? Qual o sentido que você dá a ela na sua vida.

Você acredita que ela é duradoura, perene, passageira, superficial, que está no outro ou nos olhos de quem a percebe?

Você olha para si e vê beleza? 

Qual a sua relação com ela?

Perguntas como estas muitas vezes geram sentimentos conflitantes, mas são necessárias. E, é nesse ponto que precisamos nos apropriar do que é ou não, belo.

Quando questionamos, ficamos em algum ponto entre o bem estar diante da satisfação pessoal, quando há uma aceitação daquilo que se vê e aprecia-se em si das diversas formas de beleza ou na área do sentir-se mal, pela difícil relação com a imagem de beleza idealizada, porém, difícil de ser alcançada.”

E somos expostos a estes extremos de sentimentos e relações com a beleza desde muito novos: ficamos entre o amar e o odiar discussões e temáticas relacionadas, algo tão próximo a nossa autoimagem, um dos pilares que mantêm em alta a nossa própria estima (auto estima).

Porém, a beleza não pode e nem deveria ser relacionada somente a essas questões, pois,  há diversas formas de entender a beleza no seu tempo. Ela é singular e plural. Diversa.

Encontra-se beleza na forma de se comunicar, se relacionar, expressar, demonstrar confiança e na personalidade de uma pessoa e muito mais. Lembra da definição? “prazerosos de se perceber. Tais como coisas inanimadas, paisagens, ações, seres humanos (como objeto de estudo) ou obras de arte

A beleza está em situações ou comportamentos que vão além da objetificação apresentada no início deste texto. 

A imagem corporal é uma ferramenta que representa a nossa identidade, mas ela por si só, não consegue contemplar as demais formas de beleza que acabamos de citar pois além do significado dado para ela, também temos o sentido pessoal que damos à beleza.

Ainda assim é por meio do corpo e da imagem dele que mais se debate sobre este tema, mantendo-o em alta pois o desejo ou o medo vende, fere ou liberta além de ser uma característica do nosso tempo.

Não podemos esquecer que as formas e conceitos de beleza mudam de acordo com a cultura de um lugar e com o tempo onde se discute, deste modo, não há uma beleza universal e sim diferentes possibilidades, percepções e interesses.

Mas sou gordo ou sou gorda.

Antes de falar sobre essa afirmação, gostaria de trazer um trecho de J. Birman num dos artigos que está listado na bibliografia aqui do texto e que recomendo a leitura. Os grifos são meus:

(…) o real apenas se constitui como realidade pela mediação da ordem simbólica, que lhe oferece consistência significativa, para que possa ser compartilhada por uma comunidade social determinada, dotada da mesma tradição histórica e linguística. Isso implica em dizer que a realidade é uma constituição eminentemente intersubjetiva e simbólica, não existindo pois fora dos sujeitos coletivos e históricos, que são, ao mesmo tempo, os seus artífices, os seus suportes e os mediadores para sua transmissão (Birman, 1991, p.8). [4]

A realidade é uma construção ao mesmo tempo de quem a constrói e de quem é construído por ela. E o que isso tem a ver com o corpo gordo? Tudo.

Qual a realidade que você vive? 

O que te faz acreditar em oposição àquilo que você desacredita e sabe? 

A gordura te faz mal? Como? 

A falta de gordura será que faria bem? Por quê?

Estamos falando da gordura ou da aparência?

O que te incomoda ou o que te diferencia com um corpo gordo ou magro? Por que ele é mais ou menos aceito, esse corpo?

A imagem criada do corpo gordo é contraposta pela magreza ou curvas delineadas de “uma beleza” vendida e que aos poucos vem sendo desfeita mas que ainda impera na visão coletiva de sucesso, de saúde, de modelos que nem sempre são parte da realidade. 

E por que beleza vendida é (ou foi) a magra?

Nem sempre foi, hoje, nem sempre é.

Pensar em corpo na atualidade nos remete à estética corporal, estética aqui utilizada como um termo repleto de percepções específicas, oriundas de informações que possuem, no corpo e no rosto humanos, objetos privilegiados deste tipo de percepção. (Nahoum-Grappe, 1991). [4] e que são dados pela cultura.

Ser gordo ou magro é feio? Depende.

Por quê? 

Porque a construção social foi se pondo de uma maneira tal que relaciona domínios de poder, compra, venda, interesses e exclui o real, vendendo um idealizado, imputando o desejo. Uma meta, nem sempre alcançável.

Porque a “obrigação da magreza” vem de uma construção temporal e social. De um objeto que é alcançado por poucos, não regra, mas exceção.

Estar magro ou gordo não é um sinônimo de saúde, beleza ou feiura. Aliás, se algum nutricionista, nutrólogo quiser escrever um complemento, fique à vontade.

O ponto é que com o passar do tempo, a sociedade e as informações nela apresentadas vão adicionando obrigações que nem sempre são obrigatórias de verdade.

O que se sabe sobre a gordura e sobre os preconceitos?

Entendemos que a dor de um corpo gordo parte principalmente daquilo que a sociedade atual define. Nesse caso, é importante considerar o que está relacionado à esse tecido adiposo que cobre o nosso corpo e do motivo, que o “auge” ou o “modelo” proposto é o oposto.

A questão é que a partir do momento que mídia, amigos, família, pessoas a nosso entorno compram a ideia vendida por entidades de controle, venda e domínio, elas repetem esse discurso em um bullying velado e ignorante.

O preconceito, nesse caso, está atrelado a essa superficialidade, a um estereótipo que foi-nos vendido durante décadas de “certo ou errado”.

E nesse ponto, cada indivíduo terá a sua ferramenta de sobrevivência para lidar com as imposições: lutando, fugindo ou desviando. 

Mas isso fala da relação entre você e o mundo. Mas e você? E você consigo mesmo(a)?

Quanto bullying você faz com você e quanto você violenta a sua realidade por motivos que não são os seus?

Se há sofrimento, pode-se mudar?

Aí o assunto vem para o individual e nesse caso, é melhor agendar sua sessão de terapia conosco para debater, pois cada um lida e tem sua ferramenta de sobrevivência. Cada um dá a construção e a importância de acordo com aquilo que lhe é caro.

Espero que este texto, ajude você a questionar um pouco mais sobre os padrões que vêm de fora e sobre a realidade de quem está ali, vivenciando preconceitos, estereótipos, violência dado a uma beleza que nem sempre é a beleza real, mas uma beleza vendida para você, como se fosse a melhor coisa do mundo; sendo que não é.

Também recomendo a leitura de toda a bibliografia se você estiver com tempo, o artigo 4 é excelente para mostrar a construção dessa dimensão do corpo gordo do passado até próximo aos nossos dias.

Se quiser falar mais, agende um horário, nossos psicólogos e psicólogas estão à sua disposição e sempre com horários que encaixam com sua vida.

Se curtiu o texto, mande para alguém. Se quiser comentar ou tiver dúvida, só escrever aqui embaixo que respondemos todos os comentários. 😉

Nos vemos em breve. Até logo.

Referência:

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Beleza

[2] http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/19099 – CONTAGEM, T. da S. Representações do corpo gordo no filme o amor é cego (Shallow Hal). 2018. 31f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História)- Universidade Estadual da Paraíba, Guarabira, 2018.

[3] https://www.uol.com.br/esporte/olimpiadas/ultimas-noticias/2021/07/01/por-que-corpos-gordos-felizes-incomodam-tanto-o-cidadao-comum-da-internet.htm

[4] Vasconcelos, Naumi A. de, Sudo, Iana, & Sudo, Nara. (2004). Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal Estar e Subjetividade, 4(1), 65-93. Recuperado em 27 de janeiro de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482004000100004&lng=pt&tlng=pt.

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Psicólogo CRP 06/154.661 - Formado Psicologia e em Administração com ênfase em Marketing, geek que respira tecnologia, pesquisador e mestrando em tecnologias da inteligência e design digital. É um dos fundadores do Psico.Online e do MeuPsicoOnline.com.br. Com diversos artigos e livros publicados tem sua atuação focal em jovens, adultos e idosos. Agende comigo

Psicóloga em Psico.Online

Miraína A. S. Carvalho, psicóloga clínica com registros CRP 06/174.419 e CRP 04/IS01169, possui especialização em Psicologia Clínica Infantojuvenil e Psicologia Escolar.

Sua abordagem terapêutica enfatiza a escuta ativa e acolhedora em um ambiente de confiança e respeito ético. Seu compromisso é coconstruir caminhos de transformação, sempre com um olhar empático e humanizado. Miraína destaca-se por suas técnicas lúdicas e interativas, que têm se mostrado valiosas no atendimento a crianças, adolescentes e adultos, auxiliando no desenvolvimento socioemocional e promovendo uma melhor qualidade de vida.

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