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Autodiagnóstico de Transtornos Mentais na Era Digital: Moda ou Sinal de Alerta? Psiconveniência?

O termo “autodiagnóstico” é composto por dois elementos: “auto” e “diagnóstico”. (o óbvio precisa ser dito, lembra?)

Vindo do grego, “auto” significa “próprio”, “de si mesmo”, e é frequentemente usado para indicar ação ou processo realizado pelo próprio sujeito. “Diagnóstico”, por sua vez, deriva do grego “diagnosis“, que significa “conhecimento distinto”.

Um diagnóstico é, portanto, a identificação de uma doença ou condição por meio da avaliação de seus sintomas e sinais – o que na psicologia já é bem complicado pois nem tudo é doença, síndrome ou fácil de identificar como falamos bastante aqui.

Ainda assim, observamos nos últimos tempos um fenômeno intrigante: a autoatribuição de diagnósticos (autodiagnóstico) de transtornos mentais, especialmente aqueles que a mídia amplamente divulga. Somos o país mais ansioso. Somos o país mais depressivo. O número de TDAH dispara… Etc…

As pessoas parecem adotar rótulos de saúde mental como se fossem novas tendências, mas há riscos e preocupações associados a esse comportamento. E, para entender melhor esse fenômeno, precisamos abordar dois conceitos: a psicologia social e a tribalização como prerrogativa do autodiagnóstico.

Falamos um pouco sobre isso no episódio do Psico.Online Podcast: Psiconveniência. Confira.

Autodiagnóstico e a psicologia social

A Psicologia social nos leva a entender como nosso ambiente e as interações moldam nossas percepções e atitudes.

Quando a mídia apresenta transtornos mentais, essas representações influenciam nossa consciência coletiva.

Às vezes, isso permite que as pessoas reconheçam seus próprios sintomas e procurem ajuda, mas também pode levar à interpretação errônea de emoções normais como sinais de um transtorno.

Consciência Coletiva

O termo “consciência coletiva” foi popularizado pelo sociólogo francês Émile Durkheim no final do século XIX. É uma parte fundamental da teoria sociológica de Durkheim e desempenha um papel importante na sua explicação da integração social.

A consciência coletiva refere-se ao conjunto de crenças, valores, normas e ideias compartilhadas pelos membros de uma sociedade ou grupo. Essa consciência coletiva não apenas ajuda a unir as pessoas, mas também guia seu comportamento e influencia sua percepção da realidade.

Segundo Durkheim, a consciência coletiva é o que permite a coesão e a ordem em uma sociedade. Ela define o que é considerado aceitável ou inaceitável, certo ou errado, dentro de um determinado grupo social. Além disso, ajuda a formar a identidade coletiva de um grupo e proporciona um senso de pertencimento aos seus membros.

É importante notar que a consciência coletiva não é estática; ela pode mudar e evoluir ao longo do tempo, em resposta a mudanças sociais, políticas, tecnológicas e outras. Isso significa que o que é considerado “normal” ou “aceitável” em uma sociedade ou grupo pode mudar, às vezes drasticamente, de uma geração para outra.

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Photo by SHVETS production on Pexels.com

A compreensão dos efeitos das representações transmitidas pela mídia é crucial, pois afeta a maneira como percebemos e interpretamos as experiências mentais. Além disso, a Psicologia social enfatiza que devemos ser críticos em relação às mensagens e estereótipos veiculados pela mídia, a fim de evitar julgamentos preconceituosos e estigmatização. Falamos aqui disso também.

Como indivíduos, devemos ter a consciência dos efeitos poderosos da mídia em nossa consciência coletiva e buscar informações corretas e equilibradas sobre saúde mental evitando diagnósticos precipitados ou autodiagnóstico.

Por outro lado, o fenômeno da tribalização – a tendência natural de nos agruparmos com pessoas que são semelhantes a nós em diferentes aspectos, sejam eles culturais, sociais ou pessoais – pode levar à formação de grupos que compartilham e se identificam com determinados diagnósticos relacionados à saúde mental.

Essa tendência humana de buscar identificação em grupos pode oferecer um senso profundo de pertencimento e compreensão mútua, proporcionando um ambiente de apoio e empatia necessários para lidar com os desafios da saúde mental. Os grupos do facebook que tem como título transtornos específicos, são por exemplo, um modelo desse tipo de agrupamento que não é, necessariamente, um modo de autoajuda.

No entanto, é válido salientar que essa tribalização também pode reforçar a autoatribuição de rótulos de saúde mental, fazendo com que as pessoas se identifiquem excessivamente com esses rótulos e internalizem sua visão de si mesmas como meramente definidas pelos seus diagnósticos.

Embora tenhamos semelhanças, não quer dizer que seja a mesma coisa.

É importante lembrarmos que a identidade de uma pessoa é multifacetada e não pode ser reduzida apenas a uma condição médica. A uma condição temporal, cultural ou de autodiagnóstico.

Assim, é fundamental buscar um equilíbrio saudável entre as conexões e identidades construídas em grupos, e o reconhecimento do eu como ser único, complexo e capaz de uma vida plena e significativa, independentemente de qualquer diagnóstico.

Estes “autodiagnósticos” podem resultar em busca de tratamentos desnecessários ou mesmo perigosos, além de alimentar estigmas e equívocos. Eu mesmo cansei de ver “consultas” se os sintomas são parecidos ou se os efeitos de determinado medicamente são “iguais”.

Não é incomum que emoções normais e experiências da vida sejam erroneamente medicalizadas.

Muitas vezes, as complexidades da mente humana e as variadas nuances das experiências pessoais podem ser simplificadas e rotuladas como condições médicas. No entanto, é importante lembrar que nem todas as emoções e experiências são patológicas e requerem intervenção médica.

A diversidade emocional e a singularidade de cada indivíduo devem ser valorizadas e respeitadas, reconhecendo-se que nem todos os estados emocionais exigem tratamento clínico. Devemos fomentar o entendimento de que é natural enfrentar altos e baixos, alegrias e tristezas, e que essas vivências fazem parte do processo de crescimento e autodescoberta.

Ao reconhecer a complexidade da experiência humana, podemos evitar a medicalização excessiva e promover abordagens mais holísticas e centradas no indivíduo.

Não devemos esquecer que nosso ambiente e cultura influenciam nossas experiências de bem-estar emocional. É normal sentir uma gama variada de emoções e, se você está lutando, é vital buscar ajuda de um profissional qualificado.

Neste cenário, é fundamental que os profissionais da área continuem divulgando informações precisas e esclarecedoras sobre transtornos mentais. Como sociedade, também precisamos estar cientes das complexidades do bem-estar emocional.

Sentimentos como tristeza ou ansiedade, que são respostas naturais a diversas situações da vida, acabam sendo erroneamente interpretados como patológicos. Tal percepção pode levar a uma busca por soluções inadequadas e criar uma imagem distorcida do que realmente significa bem-estar emocional.

As redes sociais, ao mesmo tempo em que oferecem um local de troca e apoio, podem alimentar equívocos.

Grupos online que se formam em torno de um determinado rótulo de bem-estar emocional podem reforçar a ideia de que certos comportamentos e emoções são anormais, criando um ciclo vicioso de autodiagnóstico e a busca de tratamentos desnecessários.

Por isso, é vital que as informações divulgadas, tanto por profissionais quanto por influenciadores digitais, sejam precisas e esclarecedoras.

O autodiagnóstico pode oferecer algum alívio temporário, mas raramente leva a soluções de longo prazo ou a um entendimento profundo das próprias experiências.

Este ponto se torna ainda mais crítico em um mundo cada vez mais digital, onde as informações falsas se espalham rapidamente.

Assim, embora tenhamos sido bastante repetitivos neste texto, para explicar ou tentar, de váriadas maneiras, precisamos buscar uma compreensão mais sofisticada e informada sobre o bem-estar emocional, que reconheça a diversidade de emoções e experiências humanas. É importante lembrar que, ao enfrentar dificuldades, devemos procurar a ajuda de profissionais qualificados. Aqui, por exemplo, você encontra uma definição do que é saúde mental.

A moda dos autodiagnósticos é um fenômeno que nos desafia a melhorar nossa percepção e manejo do bem-estar emocional. Este movimento serve como um lembrete da necessidade de uma compreensão cuidadosa e considerada do nosso bem-estar emocional, para a saúde individual e coletiva.

Afinal, a maneira como nos percebemos e entendemos pode ser tão importante quanto a realidade objetiva.

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Bibliografia para se aprofundar

Pinheiro Filho, F.. (2004). A noção de representação em Durkheim. Lua Nova: Revista De Cultura E Política, (61), 139–155. https://doi.org/10.1590/S0102-64452004000100008
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